Muito se tem falado sobre o novo coronavírus, ou COVID-19, mas você sabe realmente o que ele é? De onde veio o vírus? Qual é o seu impacto para a saúde pública e, mais precisamente, qual a sua relação com a atuação do fisioterapeuta?
Foi para esclarecer essas e outras perguntas que iniciamos hoje a série de três artigos sobre o novo coronavírus.
Nesse primeiro artigo você vai conhecer em detalhes essa pandemia e entender os seus impactos para a prática profissional do fisioterapeuta.
O próximo artigo abordará o manejo intra-hospitalar dos pacientes infectados e, por fim, traremos informações sobre o tratamento do paciente inserido na comunidade.
Para acessar o segundo artigo, clique aqui
O fisioterapeuta e o COVID-19
O que é o COVID-19, ou novo coronavirus?
No final de 2019, diversos casos de pneumonia de causa desconhecida foram reportados na China. Em fevereiro de 2020, a doença causada pelo novo vírus (SARS-CoV-2), batizada de Doença do Corona Vírus 2019, do inglês Coronavirus Disease 2019 (COVID-19), já havia sido declarada pandemia, por estar presente em uma ampla região geográfica, acometendo grande parte da população.
Os dados de 30 de março de 2020 indicam mais de 578.000 casos ativos reportados no mundo todo, com mais de 37.000 mortes atribuídas ao vírus. Para acompanhar a evolução da pandemia, é só clicar aqui.
Mas o que é esse vírus que se espalha tão rapidamente?
Coronavírus é na verdade uma família de vírus que ocasionam doenças respiratórias de diferentes graus de gravidade, incluindo a Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo (SDRA). Eles levam esse nome devido à sua aparência ao microscópio. O seu envelope de proteínas dá aos vírus uma aparência de coroa, daí o nome corona, que significa coroa em Latim.
O novo coronavírus, que após ser identificado pelos cientistas foi batizado de SARS-CoV-2, é um representante dessa família que ainda não havia sido encontrado em seres humanos. Os coronavírus são vírus passados de animais para humanos, mas ainda não se sabe qual foi o transmissor inicial do novo coronavírus aos seres humanos.
Apresentação clínica
A apresentação típica da infecção por coronavírus inclui o surgimento de sintomas respiratórios. Algumas pessoas infectadas podem apresentar-se assintomáticas e os sintomas, quando presentes, variam de leve desconforto até insuficiência respiratória aguda. Em cerca de 1% dos casos, pode levar à morte.
Os sintomas mais comuns incluem:
- Tosse
- Febre
- Falta de ar
- Cansaço
- Dor de garganta
- Outros sintomas respiratórios
A minoria da população infectada pelo vírus apresenta sintomas mais graves, necessitando de internação hospitalar. Os desfechos mais graves da doença vão, desde pneumonia, passando pela SDRA até o choque séptico, que podem levar à morte.
Os sinais de alerta para casos mais graves da doença incluem sintomas como:
- Dificuldade pronunciada para respirar
- Dor ou pressão no peito
- Confusão mental
- Dificuldade para acordar
- Cianose facial, mais comumente observada nos lábios
Quem está em risco com o coronavírus?
O novo coronavírus pode infectar qualquer pessoa, de qualquer faixa etária.
No entanto, existem os grupos de risco para as formas mais graves da doença, que incluem:
- Idosos (pessoas com mais de 65 anos);
- Indivíduos com doenças crônicas como diabetes, doenças cardiovasculares, doenças respiratórias, câncer, hipertensão arterial, doenças hepáticas, ou imunossuprimidos por qualquer motivo.
Transmissão do novo coronavírus
A transmissão do COVID-19 segue o padrão de transmissão de outros vírus da mesma família, ou seja, através de contato direto ou indireto e de gotículas respiratórias.
O período de encubação está entre 2 a 14 dias.
A virulência é bastante alta, estimando-se que cada indivíduo doente irá transmitir a doença em média para 2 a 3 outras pessoas.
Apesar de não possuir uma grande taxa de mortalidade, sua taxa de contágio é relativamente alta, sendo perigoso principalmente para as populações de risco acima citadas. Além disso, com grande parte da população infectada ao mesmo tempo, a quantidade de casos graves aumenta proporcionalmente, podendo chegar a sobrecarregar o sistema de saúde.
Portanto, essa pandemia está sendo tratada como assunto de saúde pública, e é por isso também que o fisioterapeuta, importante profissional da saúde atuante em linhas de frente no combate à doença, precisa estar totalmente informado sobre ela, agindo em concordância com os principais órgãos de saúde mundiais.
Como é feito o diagnostico?
Existe um teste específico para diagnóstico do coronavírus, no entanto, sua efetividade no diagnóstico de infecções agudas varia de 30 a 70%. Levando ainda em consideração o fato de que nem todos os lugares possuem o kit para diagnóstico de todas os doentes, o número de diagnósticos realizados pode ser menor do que o número real de casos na população.
Nem todos os pacientes com sintoma de gripe são testados. Indivíduos que tiveram contato com alguém doente e que apresentam algum sintoma da doença, são aconselhados a procurar o serviço de saúde. Além disso, critérios para testagem incluem o local de moradia, histórico médico, fatores de risco, exposição ao vírus e duração dos sintomas.
Se o quadro do paciente se encaixa com o de coronavírus, o paciente deve ser encaminhado para testagem viral.
Em ambiente hospitalar, o fisioterapeuta faz parte dessa triagem na execução de aspirados traqueais e como parte da equipe de avaliação de exames de imagem.
O Raio-X não é um exame sensível para o diagnóstico do COVID-19, mas a TC de tórax é um método que ajuda bastante, por oferecer maiores detalhes, mesmo nos estágios mais iniciais da doença. No entanto, a TC não deve ser usada como critério único, uma vez que a apresentação da doença é similar às infecções por outros vírus, como o H1N1, por exemplo.
Existem três formas de se definir os casos da doença. Eles podem ser:
- Caso suspeito: paciente com doença respiratória aguda, apresentando febre e pelo menos um sintoma respiratório, como tosse ou falta de ar, sem outra explicação para a doença e com histórico de contato com o vírus, seja em área endêmica ou com alguém contaminado; ou paciente com sintomas respiratórios e contato prévio com algum caso confirmado da doença; ou paciente com quadro respiratório grave, com necessidade de hospitalização, sem outra causa eminente para a doença.
- Caso provável: caso com resultado laboratorial do teste viral inconclusivo.
- Caso confirmado: caso com resultado positivo para SARS-CoV-2
É importante prestar atenção ao possíveis diagnósticos diferenciais da doença, que incluem outros coronavírus, adenovírus, influenza, gripe comum, ou infecções bacterianas.
O que o fisioterapeuta pode – e deve – fazer em relação ao novo coronavírus?
O fisioterapeuta é um dos profissionais de saúde com contato mais próximo com o paciente, além de ser atuante em diversas áreas e pontos das redes de atenção à saúde.
Por isso, é fundamental que todos os profissionais possuam acesso à informações atualizadas e de qualidade sobre a pandemia, e que saibam o que fazer para minimizar os riscos da população, além do seu próprio.
Reunimos aqui diversas recomendações de órgão nacionais, como a Assobrafir, e internacionais, como a Associação Australiana de Fisioterapia e a Organização Mundial da Saúde (OMS), principalmente no que diz respeito à atuação do fisioterapeuta e sua relação com o coronavírus.
O fisioterapeuta como propagador de informações
O primeiro papel do fisioterapeuta em momentos como esse é o de divulgar as informações corretas para a população e de informar sobre métodos de prevenção e controle da doença. Vamos colocar mais adiante, de forma resumida, as informações oficiais que possuímos até agora.
Cuidados com a população de risco
A OMS publicou diretrizes de cuidados para a população de risco, o que vale especialmente para os fisioterapeutas que possuem contato com esses pacientes durante o período crítico de contágio da doença.
O recomendado é que os atendimentos sejam suspensos em ambiente ambulatorial ou domiciliar, em caso de pacientes estáveis sem acometimentos respiratórios graves. Para esses pacientes, o COFFITO autorizou os serviços de teleconsulta, teleconsultoria e telemonitoramento, através da Resolução nº 516, publicada no Diário Oficial da União no dia 23 de março. Tenha acesso à publicação deles diretamente aqui.
Use esses momentos para orientar os seus pacientes de risco sobre as medidas preconizadas pela OMS. São elas:
- Oriente os pacientes a ficarem em casa.
- Peça para que mantenham distância de pelo menos 1 metro das pessoas que visitam a sua casa.
- Peça a todos que morem com o paciente, para lavarem as mãos sempre que tiverem contato com o ambiente fora da casa, ou antes do contato direto com o paciente. Existem diversas formas didáticas de mostrar a lavagem correta das mãos. Certifique-se de que o material que você usa é de fonte confiável. Uma dica é mostrar para os pacientes esse documento da Anvisa.
- Oriente para manter as superfícies da casa limpas, principalmente aquelas usadas com mais frequência. Essa limpeza pode ser feita com álcool 70% ou água sanitária.
- Oriente para que, a qualquer sinal o sintoma de contaminação pelo corona vírus, entre em contato com o médico assistente antes de se dirigir a uma unidade de saúde.
- Informe sobre os sinais de alarme da doença.
O fisioterapeuta como agente de prevenção da doença
O fisioterapeuta tem por obrigação se manter atualizado em relação ao COVID-19 para ser um modelo para a população, além de não se tornar um vetor da doença e um risco para a comunidade.
Como sugerido pela OMS, o fisioterapeuta deve:
- Estar atualizado em relação às informações sobre o COID-19 por meios de canais oficiais de comunicação e redes confiáveis.
- Manter a calma e não disseminar informações sem fundamento.
- Saber identificar os sintomas da doença para poder orientar outros indivíduos, e saber identificar quais pessoas devem ser encaminhadas para o serviço de saúde para triagem.
- Ter discernimento, com base em evidências clínicas, para identificar pacientes que devem receber atendimento.
- Manter os protocolos de prevenção de infecções atualizados em seu local de trabalho.
- Usar os EPIs preconizados para o manejo da doença.
- Utilizar máscara cirúrgica, caso apresente sintomas de doença respiratória, quando atuando na comunidade.
- Manter a higiene das mãos com água e sabão, ou álcool em gel.
- Evitar tocar os olhos, nariz e boca.
- Ao tossir, cobrir a boca com a parte interna dos cotovelos.
- Manter distanciamento social de 1 metro em ambiente comunitário.
- Suspender atendimentos que não possuem caráter de urgência.
- Evitar contato físico direto, não realizar avaliação físicas, aconselhar pacientes sintomáticos a permanecerem em casa.
- Evitar contato com secreções pulmonares.
- Informar os pacientes sobre medidas de prevenção e cuidados.
- Se envolver no planejamento e nas ações de prevenção da sua comunidade.
- Procurar atendimento médico caso vivencie algum dos sinais e sintomas de alarme da doença.
Como o fisioterapeuta deve lidar com o paciente com o novo coronavírus?
Agora você, como fisioterapeuta, está informado sobre o COVID-19 e sabe o que fazer em contextos gerais. Nos próximos textos da série, mostraremos o que há de mais recente no manejo desses pacientes, tanto no ambiente hospitalar quanto no ambiente domiciliar.
Fique ligado para receber novas informações e não se esqueça do importante papel social que os profissionais de saúde, principalmente os fisioterapeutas, possuem durante uma crise de saúde como a que estamos vivendo.
Referências:
Practice Guidelines Emerge for Physical Therapy and COVID-19 in Acute Hospital Setting. PT in Motion News. http://www.apta.org/PTinMotion/News/2020/03/26/AcuteHospitalCOVIDGuidelines/. Acesso em 26/03/2020
O FISIOTERAPEUTA E SUA RELAÇÃO COM O NOVO BETACORONAVIRUS 2019 (2019-nCoV). Assobrafir. Matte, DM. et al.
Respiratory Management of COVID 19. (2020, March 26). Physiopedia. https://www.physio-pedia.com/index.php?title=Respiratory_Management_of_COVID_19&oldid=233886. Acesso em 26/03/2020,
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