Você sabe tudo sobre o pé?
Provavelmente você, fisioterapeuta, ao ler esse texto pensou:
“Mas eu já sei tudo sobre o pé”
O que mais existe pra saber sobre ele?
O pé apesar de pequeno, é uma estrutura complexa e muito vulnerável, pois está susceptível a cargas o dia todo, exposto a lesões, e é frequentemente o alvo delas, não só em atletas, como em pessoas comuns mesmo, que trabalham o dia todo sobre – adivinhem quem? – os seus pés.
Esse texto surgiu da ideia de embasar os fisioterapeutas que leem o nosso Portal, da mesma forma como fizemos com o complexo do ombro e do joelho há algum tempo atrás, com informações e conteúdos relevantes e que foram muito bem recebidos pelos nossos leitores.
As noções estruturais e fisiológicas básicas do pé são extremamente importantes e você pode conferir, ou até relembrar aqui, tudo o que é fundamental.
Somente entendendo a estrutura e função, você conseguirá aplicar as técnicas corretas para reabilitar qualquer parte do corpo, inclusive o próprio pé.
Considerações anatômicas
O pé, durante a evolução do homem, passou de órgão de preensão flexível para um sistema de sustentação do peso.
Essas mudanças evolutivas trouxeram uma característica única e uma sobrecarga para essa estrutura.
O pé é uma estrutura complexa, composta de 23 articulações e 26 ossos (7 ossos do tarso, 5 ossos do metatarso e 14 falanges).
Na postura de sustentação de peso normal, as cargas se distribuem da seguinte forma: todos os metatarsais estão em contato com o solo e, juntos, sustentam 50% da carga.
O calcanhar é responsável pelos outros 50%. O metatarsal do hálux é responsável pelo dobro da carga dos outros metatarsais.
Os ossos do tarso, em um pé com arco plantar anatômico, ficam “suspensos”, e não participam da sustentação do peso corporal, pois não estão em contato com o solo.
O pé possui três arcos, dois arcos longitudinais – os arcos medial e lateral – e um arco transverso.
Os arcos têm a função de fornecer força, estabilidade, mobilidade e estabilidade ao pé.
- Veja também: Biomecânica do quadril, pés e tornozelos
Fáscia plantar ou Aponeurose plantar
É uma camada de tecido fibroso que se fixa posteriormente ao calcâneo e anteriormente na base da primeira fileira de falanges.
Sua função é a de sustentar uma maior carga ou transpor uma maior distância do que os elementos individuais seriam capazes
A fáscia plantar é um mecanismo que estabiliza passivamente as articulações do tarso.
A Fasceíte plantar é a inflamação dessa estrutura, condição muito dolorida ou mesmo incapacitante, causada por alterações no pé, como as mencionadas anteriormente (pé chato, cavo, etc.) ou pela forma de caminhar, por encurtamentos musculares, fraqueza muscular, excesso de peso, esforço repetitivo, uso de calçados inapropriados ou trauma direto, entre outros fatores.
Ossos
Os ossos do esqueleto do pé são formados pelos ossos do tarso, do metatarso e pelas falanges:
a) Tarso: formado por sete ossos, em ordem decrescente de tamanho: calcâneo, tálus-cuboide, navicular, cuneiformes (medial, intermédio e lateral);
b) Metatarsos: unem o tarso às falanges e são numerados de I a V a partir do hálux formado por base (extremidade proximal), corpo e cabeça (extremidade distal).
c)Falanges: cada dedo possui três falanges, a proximal, média e distal. A única exceção é o hálux, que possui apenas duas falanges, a proximal e a distal.
Vamos deixar aqui uma figura para ilustrar a complexidade do pé, que tanto comentamos:
Articulações
Como podemos imaginar pelo número de ossos, as articulações que os unem são intricadas, e numerosas, sendo bem delicadas pelo seu tamanho e precisam ser bem-estáveis para sustentar toda a carga que lhes é imposta. São elas:
- Articulação talo-crural (tornozelo): é a articulação entre a tíbia e a fíbula e a tróclea do tálus. É uma articulação sinovial do tipo gínglimo, monoaxial. Realiza os movimentos de dorsiflexão e flexão plantar. Os ligamentos responsáveis pela estabilidade da articulação são o tíbio-fibular, o deltoide e o lateral.
- Articulações intertársicas: a maioria é sinovial plana, mas a articulação talocalcaneanavicular é esferóide. Os principais movimentos realizados por ela são os de inversão e eversão do pé.
- Articulações tarsometatarsicas: são articulações sinoviais planas, que realizam movimento de deslizamento simples.
- Articulações intermetatársicas: são articulações sinoviais planas, que realizam movimento de deslizamento simples.
- Articulações metatarsofalangicas: são articulações sinoviais elipsóides, que realizam movimentos de flexão, extensão, adução e abdução.
- Articulações interfalângicas: são articulações sinoviais do tipo gínglimo, monoaxiais, que realizam os movimentos de flexão e extensão.
Ligamentos
Acreditamos que o objetivo deste texto não seja fornecer uma descrição detalhada dos ligamentos do pé, mas colocamos abaixo uma figura que pode ajudar a esclarecer algumas dúvidas sobre o complexo.
Então, caso você tenha um paciente com alguma lesão ligamentar no pé e necessite saber qual é o ligamento e onde ele se localiza, você poderá fazer uso desta imagem abaixo:
Músculos
A maioria dos músculos que movimenta o pé não se encontra no pé, e sim na perna. Temos então a divisão entre compartimentos da perna. Abaixo apresentamos uma descrição dos músculos de cada compartimento e suas funções:
Compartimento anterior:- Músculos intrínsecos do pé ou Interósseos dorsais: extensor curto dos dedos, abdutor do V dedo, flexor curto dos dedos, abdutor do hálux quadrado plantar, lumbricais, flexor curto do V dedo, adutor do hálux, flexor curto do hálux.
Goniometria
Para avaliação da função correta do pé, é necessário saber os ângulos normais de amplitude de movimento, para avaliação de redução de medidas e impacto dessas na capacidade funcional e acompanhar a progressão do tratamento.
Caso alguém precise de ajuda para saber como realizar a medição dos ângulos, em que posição, como colocar goniômetro, pode deixar as dúvidas nos comentários.
Apresentaremos aqui apenas valores de referência para as ADM’s do pé:
- Dorsiflexão: 0°a 20°;
- Flexão plantar: 0°a 45°;
- Inversão: 0°a 40°;
- Eversão: 0°a 20°
Geometria do pé
Em um pé normal, o arco longitudinal possui altura intermédia. Em um podograma reto, que forma a impressão do pé parecida com uma impressão digital, a parte posterior do pé é orientada verticalmente – ângulo que o tendão de Aquiles faz com a vertical.
Mudanças na geometria do pé resultam nas seguintes alterações:
- Pé plano, chato ou pé valgo flexível: caracterizado por uma deformidade anatômica oriunda do achatamento de um ou mais arcos do pé. Essa condição clínica faz com que a pessoa pise com quase toda a sola do pé no chão, podendo levar ao aparecimento de dor e outros desconfortos, não só nos pés, mas também em várias outras regiões do corpo (como joelhos, quadril e coluna). Pode também ser assintomático, de modo que a pessoa com essa alteração anatômica, nem saiba que a possui.
- Pé cavo ou pé arqueado: caracterizado por uma alteração do pé devido a elevação excessiva do arco plantar, que por conseqüência, gera uma diminuição do comprimento do pé. A tensão na região dos dedos e do tornozelo é maior. Isso pode causar dificuldades de adaptação aos calçados e dor ao realizar atividades como caminhar, correr e ficar longos períodos em pé.
Centro de gravidade
A base de apoio do corpo é a área que inclui os limites mais extremos do corpo em contato com a superfície de apoio. Qualquer mudança nas posições dos pés, afeta duas medidas do equilíbrio na postura ereta: a localização da vertical que passa pelo CG e a oscilação postural.
A oscilação no plano frontal diminui quando a base de apoio é ampliada 15 cm.
Quando uma pessoa fica em pé com um dos pés posicionado 30 cm a frente do outro, a oscilação no plano frontal aumenta, ocorrendo também um aumento da oscilação no plano sagital. O CG se encontra dentro da base de apoio. A base de apoio aumenta quando o peso corporal aumenta, nesse caso, existe o deslocamento do CG em direção à força do peso.
Considerações mecânicas sobre lesões do tornozelo e pé
Traumatismo:
É causado por um movimento extremo em qualquer uma das direções (dorsiflexão ou flexão plantar) dessa articulação.
Lesões por inversão:
Se o deslocamento articular é intenso o bastante para lacerar, parcial ou completamente, os ligamentos de sustentação, a face medial do tálus avança sobre o maléolo medial, sobre o qual giram. Desse modo, os ligamentos laterais são submetidos à tensão e caso a inversão continue, o maléolo medial pode sofrer fratura.
Lesões por eversão:
O maléolo lateral torna-se sobrecarregado quando o pé se move lateralmente com referência à tíbia e também se abduz e se dorsiflete. O maléolo lateral impede que o tálus gire.
Na lesão, o avanço do tálus sobre o maléolo lateral causa uma tensão extrema no tálus antes de tracionar os ligamentos mediais.
Apesar do fato de que as entorses em eversão sejam menos comuns, a gravidade destas entorses pode fazer com que demorem mais tempo para se recuperarem do que as entorses por inversão.
Com a leitura deste artigo você poderá ter insigths sobre algum caso de um paciente seu ou poderá te ajudar a pensar num plano de tratamento mais específico, dependendo do mecanismo de lesão e da área afetada!
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