Guia Completo da Síndrome da Dor Patelofemoral – Parte 4 – Capacidade

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A Síndrome da Dor Patelofemoral (SDP) é  forma mais comum de dor no joelho tratada pelos profissionais de saúde no ambiente ambulatorial. 

Essa série foi feita para ajudar as pessoas a entenderem melhor essa condição, o porquê ela ocorre e como tratá-la. 

Caso você ainda não tenha lido as partes anteriores, você ainda pode fazer isto:

Hoje nós vamos discutir sobre como a SDP ocorre e sobre os fatores que influenciam o surgimento da dor (e eventualmente, a melhora desta).

A SDP é amplamente descrita como uma condição relacionada ao excesso de uso.

Se impormos uma sobrecarga aumentada na articulação patelofemoral, nós criamos uma irritação tecidual e, como resultado, acabamos por sentir dor. 

O ponto chave aqui é o problema da sobrecarga.

Novamente, lembre-se de que o joelho é feito para aguentar cargas durante os movimentos normais do dia a dia, e que o exercício é, de forma geral, bom para ele.

Como descrito anteriormente nessa série, algumas atividades geram maior sobrecarga sobre a articulação patelofemoral do que outras. 

Atividades como correr e o agachamento profundo geram forças maiores nessa articulação e, devido a isso, a SDP é uma lesão comum observada em corredores e levantadores de peso.

Lembre-se ainda de que a biomecânica do quadril, do joelho, do tornozelo e do pé está interligada e todas elas possuem um papel importante na dor no joelho. 

Se essas biomecânicas estão desalinhadas, o resultado é uma menor superfície de área de contato na articulação patelofemoral para dissipar as forças aplicadas a ela, bem como um maior estresse na região lateral ou externa da articulação. 

Se tiver dúvidas quanto a esses conceitos, retorne à Parte 2 dessa série para relembrá-los. 

O terceiro conceito que é fundamental de ser entendido para que possamos compreender essa condição é a capacidade de articulação do joelho. 

Scott Dye é um famoso pesquisador do joelho e foi o primeiro que discutiu o tópico da “homeostase dos tecidos” e da capacidade da articulação patelofemoral. 

De acordo com a definição encontrar na Wikipédia, a homeostase nada mais é do que a “condição de estabilidade de um organismo e de seu ambiente interno, ou a manutenção ou regulação dessa condição estável, ou seu equilíbrio ou simplesmente o equilíbrio das funções corporais.”. 

Basicamente, a articulação patelofemoral está tentando manter sua homeostase como qualquer outra parte do corpo.

Scott acredita que uma sobrecarga pontual, uma sobrecarga que aumenta ao longo do tempo, pode alterar a sua homeostase e criar uma dor no joelho. 

Parece que o conceito de excesso de uso da articulação se encaixa nessa situação direitinho.

O que é mais interessante a respeito da articulação patelofemoral é que o mecanismo que desencadeou a lesão, pode ser prolongado indefinidamente se não for interrompido. 

Em outras palavras, a dor tende a se manter para sempre a não ser que alguma coisa seja feita para impedí-la. 

É bom ter em mente que o repouso por si só não é capaz de resolver a dor.

Scott descreve a habilidade do joelho em tolerar a sobrecarga (a capacidade da articulação pateloferomal), como a função de “envelope” da articulação. 

Basicamente, a articulação do joelho é capaz de lidar com certos níveis de estresse até que ela seja lesionada e se torne dolorosa.

Se nós ultrapassarmos essa capacidade, acabamos com a dor no joelho. 

Um exemplo é um levantador de peso iniciante que acabou de iniciar o seu programa de treinamento. 

O seu joelho possui uma capacidade de lidar com o estresse antes que uma lesão ocorra e qualquer movimento que exceda essa capacidade, irá levar a uma lesão. 

Esse levantador de peso iniciante é capaz de subir e descer escadas, se agachar e correr sem nenhuma dor. 

Logo, todas essas atividades estão dentro do seu “envelope” de função. 

No entanto, ele não está pronto, ainda, para começar o seu programa de treinamento, pois ele está acima da atual capacidade da sua articulação patelofemoral. 

O que é interessante sobre a articulação patelofemoral é que parece que ela pode aumentar a capacidade do joelho com o tempo, através do treinamento. 

Quanto maior a capacidade da articulação, maior a tolerância que o indivíduo possui antes do surgimento da dor. 

Esse é provavelmente o motivo pelo qual nós temos atletas que conseguem fazer um volume muito maior de atividades que sobrecarregam o joelho, como corridas e agachamentos profundos por períodos prolongados, e nunca experimentar dor. 

Isso acontece porque a capacidade da sua articulação foi sendo aumentada gradativamente ao longo do tempo.

Para o levantador de peso iniciante descrito acima, temos um período de treinamento necessário para que ele possa aumentar a capacidade do seu joelho antes de começar um programa de treinamento específico para levantadores de peso.

Pensando que pegamos um levantador de peso, o treinamos por anos e o transformamos em um levantador de peso de elite, nós aumentamos a capacidade da sua articulação, pois aumentamos seu “envelope” de função. 

Os levantadores de peso treinam a capacidade da sua articulação do joelho por anos e anos, e se tornam capazes de aguentar um volume maior de sobrecarga, bem como uma maior intensidade e frequência de treinamento. 

Mesmo que o estresse imposto na articulação patelofemoral seja muito mais alto, a capacidade de um atleta de elite aumentará de forma que ele consiga suportar esse estresse. 

Dessa forma, esse atleta continua treinando dentro do seu envelope de função e mantendo a homeostase da articulação patelofemoral.

Isso ajuda ainda a explicar porque quando dois atletas correm uma maratona, um se lesiona e o outro não. 

O atleta lesionado levou a articulação do joelho acima da sua capacidade, provavelmente porque não estava treinando especificamente para uma maratona e não elevou a capacidade do joelho para correr essa quantidade. 

Já o atleta que não se lesionou possuía dentro do envelope de funções da sua articulação, a capacidade de correr uma maratona. Por isso sua articulação permanece em equilíbrio durante a prova.

Recapitulando os conceitos até agora:

  • A Síndrome da Dor Patelofemoral é uma condição de excesso de uso;
  • Um estímulo inicial de sobrecarga pode interferir na homeostase da articulação patelofemoral e levar a um ciclo indefinido de dor, a não ser que haja alguma intervenção;
  • A capacidade da articulação patelofemoral é, na verdade, a quantidade de estresse que a articulação do joelho consegue suportar antes que ocorra uma lesão;
  • A capacidade da articulação patelofemoral pode ser aumentada – ou reduzida – dependendo do nível de sobrecarga imposto sobre a articulação, com o treinamento e com as atividades do dia a dia;
  • A capacidade da articulação patelofemoral ajuda a explicar porque alguns atletas sofrem lesões, outros não. 

Como você já sabe, a capacidade da articulação patelofemoral é influenciada por uma série de fatores. 

No próximo artigo nós vamos explicar esses fatores e como eles podem ajudar a construir joelhos praticamente resistentes.

Adaptado de: https://fitnesspainfree.com/knee-pain-complete-guide-patellofemoral-pain-syndrome-part-4-capacity/

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