Na fisioterapia, os exercícios domiciliares, de forma consensual, têm grande impacto no programa terapêutico.
É muito importante que o paciente seja bem orientado e tenha suporte do profissional que o acompanha, para que ele tenha avanços no seu tratamento com a realização dos exercícios em casa de forma correta.
Vale a pena investir na telereabilitação? Vamos discutir sobre isso no post de hoje!
O que é a telereabilitação
A telereabilitação é basicamente o acompanhamento à distância do seu paciente por meio de Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC’s).
As TIC’s são muito populares no meio acadêmico — tanto do ramo da saúde quanto do ramo audiovisual.
Podemos citar alguns exemplos como:
- aplicativos,
- podcasts,
- vídeos, entre outros.
A motivação para a telereabilitação são inúmeras:
- – O ganho de tempo do paciente quando não precisa se deslocar até o centro de reabilitação,
- – Economia,
- – Conforto, porque muitas vezes a condição física do paciente é um fator limitante para locomoção.
- – Melhora na qualidade de vida
Este tipo de tecnologia, quando aplicado corretamente favorece muito a adesão ao tratamento.
O paciente bem orientado e com indicação para a telereabilitação, pode e irá (como você vai ver com os estudos que vamos mostrar aqui) se beneficiar de um forma muito eficiente.
Doenças comuns na telereabilitação
Encontramos a telereabilitação mais frequentemente nos programas de reabilitação neurológica no pós-AVC pois este quadro tem um progresso lento podendo se estender por meses a fio, e os programas de reabilitação cardiopulmonar, que geralmente exigem 12 semanas rigorosas de exercício. Neste caso, sabe-se que a perda de 1 dia de atendimento, já compromete todo o resultado final.
Pela dificuldade de locomoção que estes pacientes apresentam, é até justificável que muitas vezes eles não compareçam no centro de reabilitação, dependendo da fase patológica em que se encontram, do apoio familiar, ou ainda de condições financeiras, etc.
O uso de órteses, bengalas, a questão da idade avançada, também são fatores que afetam bastante os portadores de AVC.
Já os pacientes pneumopatas, enfrentam grandes dificuldades de carregar seus cilindros de oxigênio, ter de subir e descer rampas, etc.
Outros pacientes, que por outro lado, têm condições físicas para comparecer ao atendimento, muitas vezes não tem tempo.
Podemos pensar no caso de profissionais de alta performance, atletas, entre outros porque hoje o tempo é raro para todos, e a maioria das pessoas tem estações competitivas e exaustivas de trabalho.
Além de doenças crônicas, em 2015, por exemplo, a telereabilitação foi utilizada com sucesso até em pacientes no pós-operatório de cirurgia ortopédica1.
Utilizando um protocolo transmitido por vídeos, por 2 meses, pelos fisioterapeutas, os pacientes obtiveram melhoras.
Houve alívio de dor, melhora da ADM, da força muscular, da capacidade de realizar atividades e da qualidade de vida como um todo.
E o melhor: não houve prejuízo dos pacientes acompanhados à distância comparado com os que tiveram atendimento presencial.
Esse é o resultado de uma boa triagem dos pacientes que se beneficiam com o programa.
Um estudo aqui no Brasil, em Ribeirão Preto, de 2016 constatou que 9 pacientes que fizeram a telereabilitação ficaram satisfeitos com o tratamento, não tiveram dificuldades com as orientações digitais e os fisioterapeutas notaram os pacientes mais motivados e compromissados com a terapia2.
Vantagens e desvantagens da reabilitação à distância
O apoio à distância é a principal vantagem da reabilitação. O paciente poupa energia e gastos ao obter informações e benefícios via exercícios sem sair de casa.
E isso é muito impactante quando falamos de pacientes que moram em regiões afastadas da cidade assim como, quem tem que enfretar muito trânsito nos seus deslocamentos.
A telereabilitação tem embasamento científico, o que fortalece mais ainda a sua utilização — com a devida indicação para pacientes com um bom cognitivo.
O treinamento flexível também é um ponto forte já que caso o paciente não se adapte ao exercício prescrito, basta ligar ou mandar uma mensagem ao fisioterapeuta.
Já em relação a desvantagens, há uma limitação para pacientes com um nível de sedentarismo já instalado.
Devido a essa falta de condicionamento, é possível que ele não consiga realizar os exercícios básicos e precise da ajuda física do terapeuta.
Além disso, muitos não têm boa percepção corporal, ou propriocepção.
Visualizam os comandos, mas realizam os exercícios de forma diferente do recomendado, exigindo sim a presença física do fisioterapeuta.
Por isso deve-se avaliar cada caso, se há mesmo indicação para telereabilitação.
Monotonia é outra desvantagem, caso o programa de exercícios tenha uma duração mais prolongada, por exemplo, mas ela pode ser driblada, com a inclusão de novos exercícios e com estímulo de metas para serem alcançadas.
A implantação de novos exercícios provavelmente exigirá que seu paciente compareça ao atendimento, o que quebra a proposta de comodidade dos exercícios à distância.
O início da telereabilitação pode ser desafiador para alguns pacientes porque ele terá que se adaptar a uma modalidade de tratamento em que ele é autônomo, independente, sem um profissional ali para motivar o tempo todo.
No entanto os pacientes mais independentes irão se sentir aliviados de não ter a necessidade de comparecer religisiosamente nas sessões de exercícios.
A motivação da família é fundamental, além do próprio mindset do paciente — de ser autoeficaz e de gerenciar seu problema de saúde.
Veja agora 6 aplicativos desenvolvidos para os exercícios à distância.
1. ContinenceApp:
Para Android e iOs, esse app foi desenvolvido pela equipe de Enfermagem da Universidade Federal do Ceará — com colaboração da Fisioterapia e da Medicina — e é voltado a exercícios preventivos para a Incontinência Urinária (IU).
Essa disfunção ocorre nos músculos responsáveis por sustentar a bexiga, o reto e a vagina. Então existem várias patologias associadas a esse achado como: prolapsos, multiparidade, doenças neurológicas, histórico de gestações, etc.
Em 2018, contabilizou-se 10 milhões de brasileiros com a IU, segundo a Sociedade Brasileira de Urologia, inclusive ela pode acontecer na população do sexo masculino também.
O foco do ContinenceApp é informar corretamente as mulheres no pós-parto por meio da orientação didática de exercícios de fortalecimento para o assoalho pélvico. A própria interface do app é limpa, fácil de utilizar e bonita tornando seu uso bem atrativo também.
O próprio app faz a progressão do treinamento, conta o tempo e explica toda a anatomia da musculatura junto com informações sobre a IU.
Vale ressaltar que esse momento de orientar o paciente sobre a doença faz parte da intervenção em IU, bem como da reabilitação cardiopulmonar. O paciente certamente se sente mais seguro quando conhece sua doença, seu corpo e o motivo de exercitar-se.
2. Einstein Fisioterapia:
A proposta desse app desenvolvido pela equipe do Hospital Albert Einstein é um pouco diferente: o próprio fisioterapeuta grava vídeos personalizados para que o paciente se guie para os exercícios.
Além disso o Einstein Fisioterapia faz esse acompanhamento do terapeuta com o paciente à medida que os exercícios vão sendo executados em casa.
E você faz isso mostrando ao paciente que está monitorando-o, o que ajuda bastante na questão da motivação.
Para começar a utilizar, entretanto, você deve oferecer o seu e-mail para que eles entrem em contato. Mas ele é gratuito e está disponível também para iOS e Android.
3. Fisio Adventure:
Esse app, além dos benefícios por exercícios, promove ludicidade e entretenimento com o cenário do jogo. Ideal para os pacientes pediátricos!
Assim que o paciente instala o Fisio Adventure no seu celular, aparece a opção de exercícios de marcha e de agachamento com um contexto de Egito Antigo.
Esses exercícios são feitos com uma narração guiando o paciente em um cenário em que ele irá invadir uma pirâmide, realizando um determinado tempo de marcha, em seguida irá se sentar em uma cadeira, entre outros movimentos.
Por meio do áudio guiado e a música, o paciente realizará os movimentos de forma divertida sem perceber que há um objetivo por trás.
A desvantagem é que os desenvolvedores recomendam o uso de uma braçadeira para captar os movimentos e o fisioterapeuta não tem muito controle da prescrição dos exercícios. Além disso ele só está disponibilizado, por enquanto, para a plataforma iOS.
Isso se deve ao aplicativo nativo Saúde, do sistema da Apple, que registra os dados do Fisio Adventure para que o paciente mostre ao seu fisioterapeuta.
Os desenvolvedores indicam fortemente esse app para portadores de Doença de Parkinson já que envolve a marcha, o sentar-levantar e de forma não tão monótona. Isso contribui para que esse perfil de paciente realize os exercícios de forma contínua ao longo da vida.
E o próprio áudio insere uma espécie de metrônomo que serve muito bem como marcador externo para auxílio da marcha.
4. Fitness Builder:
Fitness Builder tem um perfil mais voltado a pacientes jovens, com um grau de percepção corporal e condicionamento basais.
Nesse app, há a demonstração de exercícios para o manguito rotador, fortalecimento do CORE em diversas posturas, exercícios de fortalecimento para músculos da mão… é um acervo bem completo para o seu paciente da ortopedia que já faz tudo praticamente sozinho no seu atendimento.
Também para iOS e Android, o Fitness Builder tem a opção do paciente acessá-lo e realizar os exercícios por conta própria, como também realizar os que forem prescritos pelo fisioterapeuta.
A desvantagem é que ele está ainda em inglês e é pago, mas oferece um mês de gratuidade na qual você pode verificar se vale a pena ou não o investimento.
O próximo app é voltado para exercícios em ortopedia, mas para pessoas com idade mais avançada.
5. Pocket Physio:
Esse app, também em inglês, é um guia para exercícios do complexo da mão, do joelho, do quadril e do pé, sobretudo em pós-operatório.
São vídeos e instruções por textos que podem ser selecionados junto com o fisioterapeuta para serem praticados em casa pelo paciente.
E, como bônus, o Pocket Physio conta com exercícios respiratórios, cuidados com o pós-operatório nas cirurgias de quadril, autoavaliação, estratégias para alívio da dor, cuidados na marcha e em outras AVD no pós-operatório de cirurgia ortopédica, etc.
O desenvolvedor fez parceria com o Serviço Nacional de Saúde da Inglaterra (a famosa NHS, que já desenvolveu vários instrumentos e questionários fisioterapêuticos), daí sua segurança. Infelizmente só está disponível para iOS.
6. Stretch HD:
Outro app, que também está em inglês, é voltado exclusivamente para os exercícios de flexibilidade muscular, isto é, os alongamentos. Mas ele tem uma interface bem desenvolvida e muito intuitiva.
Stretch HD é basicamente um acervo com mais de 60 vídeos que orientam os alongamentos de cada segmento corporal. Foi desenvolvido por um fisioterapeuta australiano e é fundamentado em pesquisas, logo também é seguro.
A motivação da criação do app foi a quantidade de pacientes que não eram nada familiarizados com os alongamentos, o que comprometia a terapia pelo longo tempo e paciência que se deve ter até que o paciente assimile os movimentos.
Além disso, não havia um local na internet que ensinava todos esses alongamentos de forma confiável, prática e com qualidade. Daí a criação dos vídeos em HD para ensinar com detalhes os exercícios.
Na verdade, dependendo do alongamento, o paciente dificilmente irá aprendê-lo, quando já é um idoso(a) com distúrbios cognitivos consolidados, como as demências.
O bom desse app é que ele é voltado para cada nível de conhecimento em atividade física, do básico ao avançado.
Há sugestões de rotinas de alongamentos, orientações posturais, conhecimento teórico sobre a importância de alongar-se, glossário para quem não conhece as terminações, opção para colocar música enquanto se exercita e para compartilhar os programas entre colegas, terapeutas e pacientes.
Está disponível para iOS e Android e é completamente gratuito.
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Usar ou não usar os aplicativos?
Os aplicativos são ótimas ferramentas que os fisioterapeutas e profissionais de saúde tem à mão e devem fazer uso delas, quando indicado.
Cabe a você, com sua liberdade e autonomia, verificar se valerá a pena.
Porém, na sua decisão leve em conta vários tópicos que abordamos aqui: a necessidade do paciente que pode se beneficiar com a telereabilitação, os possíveis gastos com os aplicativos e a triagem.
Depois disso, pense nas vantagens, que resumimos aqui:
- Apoio à distância
- Embasamento científico
- Treinamento flexível
- Desenvolvimento da autonomia, melhora da orientação quanto a sua condição de saúde
E quanto aos pontos negativos temos:
- Sedentarismo instalado, baixa propriocepção
- Monotonia e motivação possivelmente dependentes da família
- Adaptação
Então, coloque os pontos na balança e, junto com o seu paciente, decida se irão entrar também para o mundo da telereabilitação.
Referências:
1 – http://www.flinders.edu.au/mnhs/telehealth/telehealth_home.cfm 2 – http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/82/82131/tde-28032016-140813/pt-br.php
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