Saiba quais os Melhores Exercícios para a Prevenção de Quedas em Idosos.

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A ocorrência de quedas, sobretudo na população idosa, é um achado de grande relevância no cuidado ao idoso. É preciso realizar uma avaliação adequada do risco de quedas, enquadrar o paciente em algum nível de risco e planejar o tratamento e/ou a prevenção.

Ao longo da conduta, diferentes tipos de exercícios podem auxiliar. Conheça os tipos de exercícios que de fato previnem as quedas aos idosos.Ao longo da conduta, diferentes tipos de exercícios podem auxiliar. Conheça os tipos de exercícios que de fato previnem as quedas aos idosos.

O impacto das quedas na qualidade de vida

Além de lesões traumáticas e injúrias cerebrais, as quedas são um problema de saúde pública em nível mundial.

A Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2018, estimou que mais de 37 milhões de quedas em adultos e crianças foram tão severas que demandaram atendimento médico anual. Sendo que 80% dessas quedas foram registradas em países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, como o Brasil.

Até o ano de 2025, o Brasil será o sexto país do mundo com o maior número de idosos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A própria urgência na Reforma da Previdência também é um sinal, no campo político, de como a população idosa tem crescido em nosso território.

As quedas em idosos são muito preocupantes porque todo o estilo de vida das pessoas idosas é modificado.

Quem nunca conheceu um “vovozinho(a)” que outrora completamente independente e ativo passou a ser cadeirante depois de uma queda?

Aumento da dependência para as AVD (Atividades da Vida Diária), restrição social por medo de ter mais quedas, e aumento da fragilidade e incapacidade, ocorrem quase sempre depois de um episódio de uma queda com implicações mais sérias.

Mas por que isso é tão característico dos idosos?

Porque é nessa faixa etária que ocorrem diversas mudanças e adaptações do organismo, como um todo, decorrentes do processo de envelhecimento – um processo inevitável para todos nós.

1. A visão

Uma série de modificações culminam na diminuição da acuidade visual do idoso. A partir dos 40-50 anos de idade, as principais queixas são a falta de capacidade de acomodação ou de focalização de objetos próximos — a presbiopia.

Ao longo do envelhecimento ocorre ainda diminuição do campo visual periférico, sensibilidade ao contraste, noção de profundidade, entre outros.

2. O sistema musculoesquelético

Depois dos 20-30 anos, a maturação desse sistema se completa. A etapa seguinte é a deterioração desses componentes, como a degeneração da cartilagem articular de várias articulações do corpo.

O surgimento de lesões e incapacidades motoras, no entanto, só ocorrem caso o indivíduo possua alterações biomecânicas instaladas.

Depois dos 50 anos, 10% dos músculos são literalmente degenerados a cada 10 anos. Esse processo só cessa aos 80 anos de idade. E nas mulheres isso é ainda mais evidente.

Saiba quais são os Melhores Tipos Exercícios para a Prevenção de Quedas em Idosos.

1. O sistema cardiovascular

Ocorre aumento da rigidez aórtica, por alteração do metabolismo mitocondrial que gera maior secreção de colágeno e indução de apoptose das células musculares lisas do coração.

 Essa alteração de elasticidade predispõe a hipertrofia de ventrículo esquerdo, insuficiência cardíaca congestiva, entre outros.

Outra alteração clássica é a diminuição da habilidade da frequência cardíaca ser alterada mediante diferentes níveis de estresse.

 Esse déficit também acontece na resposta autonômica (por isso há tanta variação de pressão arterial às mudanças de decúbito (atitude do corpo em repouso em um plano horizontal) nos idosos – um fator direto para as quedas).

1.      O sistema neurológico

Ao longo da vida, muitas alterações já vão ocorrendo nesse sistema tão complexo. Com causas multifatoriais, algumas influenciam na perda de força e no maior desequilíbrio em idosos — que acaba sendo potencializado pelas patologias já existentes.

Após os 40 anos, o volume e o peso do cérebro declinam 5% por década.

Vale lembrar que uma das principais regiões cerebrais, o córtex (componente do Sistema Nervoso Central), é responsável pela motricidade enquanto o Sistema Nervoso Periférico tem função sensório motora e assim, integrados, desempenham um papel relevante no equilíbrio das pessoas.

A estabilidade do corpo é uma associação da recepção adequada de informações sensoriais, cognitivas, integrativas (do sistema neurológico) e musculares.

Para todo tratamento de determinada disfunção, uma estratégia interessante é conhecer os fatores de risco.

Dessa forma, resolve-se a causa principal e previne-se a ocorrência de novos episódios.

Fatores de risco intrínsecos

Fatores mais dependentes do indivíduo por si só e quase sempre não-modificáveis são:

Histórico de quedas

Uma ou mais quedas no ano anterior sinalizam risco de quedas no ano subsequente. Isso é oriundo do fato de que a ocorrência de uma queda, faz o idoso ter medo de cair novamente ao movimentar-se. Entretanto a perda de mobilidade também pode ocasionar mais sedentarismo e maior intensidade das perdas musculoesqueléticas.

Idade

Exatamente o que mais é relacionado às quedas. Os idosos são muito vulneráveis devido a um histórico de alterações biomecânicas, às alterações fisiológicas e também às doenças.

Sexo feminino

Nesse ponto deve-se associar a outras condições igualmente sérias que são mais favoráveis a mulheres, como a osteoporose.

Medicamentos 

Alguns tipos de drogas psicoativas (antidepressivos) têm relação direta com o índice de quedas.

Condição clínica

Hipertensão arterial sistêmica, doenças neurológicas, deformidades estruturais ósseas… muitas morbidades têm influência direta.

Distúrbios de marcha e equilíbrio

Além de condições cuja tipicidade são esses déficits – como um idoso com um pós-AVC crônico ou um portador de labirintite – qualquer alteração de marcha e equilíbrio afetam intensamente nas quedas.

Sedentarismo

A perda de condicionamento musculoesquelético significa também perda de reflexos e de propriocepção articular, além da capacidade de resposta a um risco de queda e/ou recuperação dela.

Estado psicológico

O medo decorrente de quedas afeta as atividades físicas e sociais dos idosos.

Deficiência nutricional

Nutrientes-chave como cálcio e vitamina D afetam a massa muscular, risco de osteoporose, entre outros.

Declínio cognitivo

Essa característica é muito encontrada em idosos com demência e afeta o indivíduo como um todo, mesmo que seja de leve intensidade.

Estado funcional e grau de dependência

Conforme o grau de dependência aumenta, maior o risco de quedas. Na marcha, por exemplo, seja com andador, bengala ou o próprio cuidador, esse apoio externo não é a melhor opção para o idoso.

Fatores de risco extrínsecos

O interessante desses fatores é que eles podem ser responsáveis por até 50% das quedas. Sem contar que a maioria ocorre em ambiente domiciliar. Conheça:

  • Iluminação inadequada
  • Superfícies escorregadias, presença de tapetes soltos
  • Degraus altos e/ou estreitos, ausência de corrimões
  • Prateleiras excessivamente altas, obstáculos pela casa (objetos, fios, móveis baixos)
  • Roupas e sapatos inadequados
  • Via pública malconservada, buracos e irregularidades no chão e ausência de órteses
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Quedas em idosos: intervenção fisioterapêutica

A própria OMS sugere como prioridade a educação, o treinamento, a melhora do arranjo físico ao redor do idoso e o estabelecimento de políticas públicas.

No campo da fisioterapia, uma revisão da Cochrane relacionada a esse tema foi finalizada recentemente.

Nesse novo estudo, 108 pesquisas englobando os mais variados tipos de exercícios que objetivavam a prevenção de quedas em idosos foram avaliados. Nessa amostra, 81 dos estudos trabalharam com grupo de controle.

Como conclusão, verificaram que os exercícios que focam em equilíbrio e treinamento funcional, ou ainda quando associados ao fortalecimento muscular, são os melhores para a prevenção de quedas com um nível “bom” de evidência científica.

O Tai Chi também se mostrou como um tipo de exercício promissor para a redução desses eventos entre os idosos. Inclusive esse exercício não é inovação só de primeiro mundo, o Ministério da Saúde verificou que ele pode reduzir as quedas em até 37%.

Isso em programas de exercícios de pelo menos 12 semanas.

Outro destaque é que se concluiu que esses benefícios ocorrem incondicionalmente se os exercícios forem realizados em grupo ou individualmente; e conduzidos por profissionais de saúde ou não.

Porém, essa conclusão é de uma análise observacional e para uma informação mais bem estabelecida exige-se mais ensaios clínicos para análise.

Em números, para o grupo de idosos que possuíam alto risco de quedas, o efeito da terapia foi de 276 menos quedas a cada 1000 indivíduos da amostra.

Esse estudo não encontrou evidências suficientes para a utilização da dança, o fortalecimento muscular isolado ou a caminhada como estratégias para a prevenção de quedas.

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Efeitos adversos dos exercícios em idosos

Essa revisão não reportou intercorrências significantes de alta prevalência. Entretanto, 2 de 27 estudos registraram fratura por estresse na região pélvica e hérnia de disco.

Ainda sobre precauções quanto a esses exercícios terapêuticos, o estudo afirma que pessoas que recentemente receberam alta de reabilitação em nível hospitalar e portadores de Doença de Parkinson, não se beneficiam desses exercícios.

Veja também – Doença de Parkinson – O que o Fisioterapeuta Pode Fazer para Ajudar

Estratificação de risco e implantação dos exercícios

A melhor saída é a associação de instrumentos de avaliação.

A combinação de escalas geriátrico-gerontológicas é a melhor forma de estratificar o risco de quedas em idosos.

Daí a importância de conhecer todos eles e definir o momento correto de implantar os exercícios.

O mais conhecido e prático é o teste físico Timed Up & Go (TUG) junto com a Escala de Equilíbrio de Berg. 

No TUG, o idoso basicamente levanta-se de uma cadeira, caminha alguns metros, dá uma volta e retorna para se sentar na cadeira novamente em uma velocidade própria, a mesma do dia a dia.

É um teste funcional que prediz com sucesso o risco de quedas baseado no tempo que o participante exerce a tarefa.

Já a Escala de Equilíbrio mencionada é um questionário relativamente longo que solicita que o participante execute algumas tarefas como: ficar em apoio unipodal, fechar os olhos, ficar em apoio unipodal e fechar os olhos, entre outros.

Outros três instrumentos muito usados na literatura é o Performance-Oriented Assessment of Mobility (POMA) — questionário muito completo e voltado para idosos em geral e suas principais afecções — o Functional Reach e o Dynamic Gait Index (ou Índice Dinâmico de Marcha), um instrumento voltado para a análise de marcha que envolve acelerações e movimentos de cabeça.

O Functional Reach, ou alcance funcional, é a mensuração do movimento de alcance.  Na escala de POMA esse alcance é avaliado também, mas no sentido vertical — simulando pegar objetos de uma prateleira alta.

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Vale ressaltar que muitas tarefas solicitadas nesses testes servem também como intervenção. Quando a evidência científica nos informa que o treino de equilíbrio e o treinamento funcional são as melhores ferramentas, saiba que solicitar apoio unipodal, marcha com contra-reação, estímulos vestibulares e atividades de alcance, são os exemplos mais básicos.

Você que faz circuitos com obstáculos com seu paciente, tem agora evidência científica sólida dessa conduta.

Já o fortalecimento muscular é um objetivo ainda mais versátil, uma vez que há um grande leque de opções para o alcance dele.

Mas é importante lembrar dos parâmetros de prescrição de exercício a essa população — no geral são de intensidade baixa a moderada e com amplitude de movimento reduzida.

E quanto ao Tai Chi, é recomendado um treinamento dedicado a essa área.

Essa prática da Medicina Chinesa traz muitos benefícios psicológicos também — já que traz relaxamento e meditação, mas os exercícios envolvem muito equilíbrio e a posição de ortostase mantidas, e isto é relativamente desafiador.

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Envelhecimento ativo

A melhora da qualidade de vida por meio da otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança à medida que as pessoas envelhecem, é a definição de envelhecimento ativo.

Essa proposta tem como objetivo tornar o processo de envelhecimento uma experiência positiva.

Sabendo dessa importância, o fisioterapeuta é um agente notável na garantia desse conceito aos idosos.

As políticas de saúde, por mais precárias que sejam, existem e de nada adianta o fisioterapeuta aplicar os melhores exercícios ao paciente sem encaminhá-lo a um serviço e auxiliá-lo a manter continuidade na prática da atividade física.

Uma boa condição da força muscular, por exemplo, é capaz de manter os receptores articulares proprioceptivos com função satisfatória evitando assim muitas quedas por meio da sua capacidade de resposta frente ao desequilíbrio.

Além disso, o estado cognitivo, psicológico e nutricional do idoso tem igualmente uma ação direta na prevenção de quedas.

Envelhecer ativamente é cumprir essas metas, fugir da restrição social e poder continuar sendo atuante nas questões sociais, econômicas, culturais e civis.

Adaptado de Evidently Cochrane.


Referência bibliográfica:
http://www.gestaouniversitaria.com.brscientific_articles/

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