Importância de selecionar técnicas adequadas para o seu paciente
A especialização traz benefícios; desde uma melhora no cuidado do paciente, até um melhor entendimento de áreas antes pouco estudadas, associado a uma evolução técnica e de conhecimento.
Hoje, com o avanço dos estudos, tecnologias e áreas de comunicação, o fisioterapeuta tem muito ao seu alcance para conseguir desenvolver o melhor tratamento para o seu paciente, porque possui diversas técnicas e equipamentos à sua disposição e muitos cursos para saber como aplicá-los.
Mas podemos observar que a especialização em demasia pode sair pela culatra, e acabar por trazer alguns ônus a tiracolo. E quais são esses lados negros da especialização exagerada?
Um deles é que alguns profissionais podem ficar “cegos” para outras práticas e técnicas fora da sua especialidade e tender a submeter todos os pacientes ao mesmo método de tratamento, independente se é ou não o mais indicado para o quadro apresentado.
Não estamos dizendo que isso aconteça com todos os profissionais, mas isto acontece com frequencia.
Tem também fisioterapeuta, que assim como alguns médicos, tratam doença de livro, e não paciente. E isto acontece com mais frequência do que imaginamos, infelizmente.
Pode ser que você esteja se perguntando: por que isso é ruim?
Por que não se pode tratar todos os pacientes com a mesma técnica, se ela realmente funciona?
A resposta é simples: não levamos o paciente à técnica, e sim a técnica ao paciente.
O Cuidado Centrado no Paciente
Um conceito relativamente novo em termos de nomenclatura, mas bem antigo na prática do cuidado em saúde, é o cuidado centrado no paciente.
O termo fui criado a partir de uma necessidade que surgiu de se estudar melhor a participação do paciente no seu próprio cuidado e tratamento, nas mais diversas áreas da saúde.
Muitos estudos realizados na área de fisioterapia tiveram resultados desanimadores em relação aos desfechos clínicos, mesmo com o emprego de técnicas comprovadamente eficazes em teoria.
Em análises mais profundas, com criação de subgrupos, observou-se que esses resultados variavam bastante dependendo de algumas características dos pacientes e dentre elas, a crença que o paciente tinha na técnica, bem como a sua percepção do tratamento.
Percebeu-se, então, que a participação do paciente no processo de cuidado, principalmente na tomada de decisões em relação ao seu tratamento, possui impactos profundos nos desfechos do tratamento, sendo os melhores resultados alcançados por terapias que levavam em consideração as crenças, os valores, os objetivos, desejos, e vontades dos pacientes.
Hoje sabemos que o modelo onde as decisões são tomadas pelo profissional da saúde e entregues para o paciente em uma bandeja em forma de receita, orientações ou ordens para a realização de exercícios, não funcionam muito bem. Pelo menos não como se esperava.
A variação desse modelo, por outro lado, otimiza os resultados do tratamento, melhorando os desfechos e aumentando o sucesso da terapia, principalmente com os tratamentos fisioterápicos.
Assim fica mais fácil perceber, porque escolher uma técnica e usar com todos os pacientes não funciona. Simplesmente porque cada paciente é único.
- Veja também: Dynamic Tape no Tratamento Fisioterapêutico de Pé Equino em Crianças com Paralisia Cerebral Espástica
A Importância de Escolher Técnicas Adequadas Individualizadas para Cada Paciente
Como já sabemos, nem toda técnica funciona com todo paciente e existem grupos para os quais determinadas técnicas funcionam e grupos para os quais elas não funcionam e por isto devemos ir além dos estudos e além das generalizações estatísticas.
É de fundamental importância que esses dados sejam levados em consideração, até mesmo para se ter um norte na prática clínica.
Estudos oferecem um leque de possibilidades de tratamento e permitem que não se parta do zero a cada novo paciente. É graças a eles que se sabe quais exercícios funcionam para ombro congelado, e quais funcionam para tendinite do manguito rotador.
Mas isso não significa que todo paciente irá responder da mesma forma aos mesmos exercícios. Às vezes um paciente responde bem a uma determinada técnica, que para outro paciente pode ser muito pouco ou mesmo nada eficaz. Com certeza você já viu isso acontecer pelo menos uma vez na sua prática clínica.
Logo, individualizar o tratamento é fundamental para que os desfechos dos tratamentos sejam positivos, e para que a terapia tenha sucesso.
Além disto, a escolha adequada da técnica que irá responder às necessidades específicas do seu paciente e não as necessidades da patologia que ele apresenta de acordo com o livro, aumenta a satisfação do cliente com o seu atendimento.
Um cliente satisfeito é um paciente que retorna para as próximas sessões, que confia em você, que te recomenda para outros pacientes, fortalecendo a sua rede, o seu nome, e trazendo mais benefícios em longo prazo.
Portanto, escolher a técnica adequada para o paciente é importante tanto para o sucesso do tratamento, quanto para o sucesso do seu negócio.
Como Saber Qual é a Técnica Adequada para Cada Paciente?
Essa pergunta possui ramificações complexas, mas uma resposta simples e direta é avaliação. Apenas por meio de uma avaliação adequada e bem feita é possível perceber as necessidades reais daquele paciente específico.
O ponto fundamental que queremos destacar nesse texto é que o paciente deve ser incluído em todas as etapas da avaliação. Uma anamnese bem feita responde pelo menos metades das perguntas que precisamos responder para traçar um plano de tratamento adequado, mas muitas vezes nos leva muito mais longe.
Perguntar o que o paciente está sentindo, o que ele espera com o tratamento, e quais são os seus objetivos principais, ajuda a definir as condutas a serem realizadas e quais técnicas escolher.
Por exemplo, se a principal queixa do paciente é a dor, o foco deverá ser pelo menos em um primeiro momento em técnicas de analgesia. Mesmo se o paciente apresenta déficit de força muscular, esse não é o momento para focar em ganho de força, por mais que essa seja a especialidade do fisioterapeuta.
Entregue a ele de imediato o que ele quer, junto com o que ele precisa.
Portanto, às vezes é preciso deixar de lado o que se acha ser o ideal e simplesmente ouvir o que o paciente tem a dizer. Só assim você vai conseguir pistas sobre o que ele pensa e sente para escolher a técnica adequada para ele e consequentemente a que será mais efetiva e trará melhores resultados nesse momento.
Afinal, o fisioterapeuta deve tratar o seu paciente, e não apenas a disfunção que ele apresenta.