Corticoesteróides podem auxiliar na cicatrização!

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Um estudo recente, publicado 2017, feito pelos pesquisadores da Universidade de Linköping, na Suíça, discorreu sobre a ação da aplicação de corticoesteróides no tratamento de lesões tendíneas.

Os resultados foram apresentados na revista Scientific Reports. O que foi demonstrado como resultado da pesquisa é interessante não apenas para a área médica, mas também para os fisioterapeutas, pois evidenciaram novas possibilidades do tratamento desse tipo de lesão, e novas potencialidades de recuperação.
Segundo o estudo, a aplicação de corticoesteróide é capaz de melhorar a cicatrização de tendões lesionados, porém, deve ser feita no tempo correto. Experimentos feitos em ratos demonstraram que o tendão se torna duas vezes mais forte após o tratamento com corticoesteróides.

É fato conhecido que a aplicação de corticoesteróides inibe a cicatrização, mas o que foi demonstrado nesse estudo indica o contrário. Segundo um dos autores, Per Aspenberg, professor do departamento de Medicina Clínica e Experimental da Universidade de Linköping, esse tipo de terapia pode ter um forte efeito positivo na cicatrização de tendões. Nesse caso, o momento da aplicação é fundamental para o sucesso do tratamento.
A inflamação tem um papel importante na recuperação e na cicatrização de tendões lesionados. Durante a fase inicial do processo inflamatório, uma resposta relativamente agressiva ocorre, e diversos tipos de células do Sistema Imunológico são atraídos para o local da lesão.

Isso faz com que a região lesionada se torne inchada – edema – e dolorosa.
O processo inflamatório sofre modificações após um período de tempo, e sinaliza ao corpo que é hora de formar um novo tecido para reparar o dano sofrido.

Estudos anteriores demonstraram que medicamentos anti-inflamatórios, como o corticoesteróide Dexametasona, tem efeitos negativos no processo de cicatrização.
Os pesquisadores responsáveis por esse novo estudo estavam especialmente interessados na fase do processo inflamatório caracterizada pela transição entre a inflamação “destrutiva” para a inflamação “construtiva”, ou seja, para a fase de cicatrização tecidual.
Quando a formação de novo tecido tendinoso se inicia, a inflamação deve desaparecer, pelo menos das forma clássica com os sinais flogísticos que conhecemos. A suspeita levantada foi a de que a inflamação pode ainda estar presente mesmo na fase construtiva, e atrapalhar o processo de formação de novos tecidos.

Por esse motivo, os pesquisadores procuraram descobrir o que acontece quando um corticoesteróide é aplicado no momento correto do processo de regeneração tecidual.
Um tendão de Aquiles rompido, por exemplo, pode ser entendido como uma corda que foi cortada. A força da corda depende da sua espessura, e da qualidade do material do qual ela é feita. Quando os pesquisadores atrasaram o tratamento com corticoesteróides até o início da fase de reconstrução tecidual, eles descobriram que a qualidade das fibras de colágeno do tendão reconstruído era maior.

Segundo Parmis Blomgran, estudante de PhD da Universidade e principal autor do artigo, quando a Dexametasona foi administrada durante a fase de regeneração tecidual, o tecido no tendão de Aquiles reparado era mais do que duas vezes mais forte do que os tendões do grupo controle, não tratado com o corticoesteróide.

A surpresa maior do artigo veio com a descoberta da importância do efeito positivo da aplicação de corticoesteróide no tendão regenerado. A diferença entre os dois grupos, o tratado com Dexametasona, e o não tratado, foi tão significativa que pode ser percebida a olho nu. Essa diferença ficou ainda mais evidente quando vista pelo microscópio.

Durante o processo de cicatrização do tendão, as fibras de colágeno são inicialmente dispostas de forma desorganizada, e em grande quantidade. O novo tecido deve então amadurecer, e as fibras se tornam gradativamente mais organizadas, formando feixes organizados paralelamente uns aos outros, seguindo a mesma direção.

Esse processo de amadurecimento tecidual é impedido pelo processo inflamatório em atividade. Fica, então, evidente, que esse amadurecimento ocorre mais rapidamente quando o processo inflamatório é reduzido pela aplicação de um corticesteróide.
No entanto, é muito cedo para afirmar que a aplicação de corticesteróides terá o mesmo efeitos na cicatrização de tendões humanos.

O autor do artigo acredita que os resultados desse estudo, demonstrados em ratos, podem ser relevantes também para seres humanos, porém, devem ser investigados primeiramente em estudos com animais maiores, e posteriormente em ensaios clínicos randomizados, para comprovação verdadeira de sua efetividade.

De acordo com as conclusões do estudo, o efeito da aplicação oportuna de corticoesteróides é tão significativo, que merece ser investigado mais a fundo, com o objetivo de fazer com que esse tratamento possa ser utilizado na prática clínica para o manejo de lesões ortopédicas.

Novas possibilidades terapêuticas surgem a todo momento, aumentando ainda mais o potencial de reabilitação do fisioterapeuta. É importante estarmos atentos às inovações e possíveis aplicações em nossa área.

Se provado efetivo, esse tipo de tratamento poderá auxiliar e muito nossa intervenção nas rupturas de tendões, permitindo um início mais precoce da reabilitação, e aumentando as possibilidades de recuperação da função.

A volta mais precoce à atividade pode ser especialmente importante na reabilitação de atletas de alto desempenho.

O artigo, para quem tem interesse de lê-lo na íntegra, é esse aqui:

Systemic corticosteroids improve tendon healing when given after the early inflammatory phase, Parmis Blomgran, Malin Hammerman, Per Aspenberg, Scientific Reports 7 2017, published online 29 September 2017, doi: 10.1038/s41598-017-12657-0 .
https://www.nature.com/articles/s41598-017-12657-0
Os autores deixam, ainda, informações de contato, para que outros pesquisadores possam contribuir para a pesquisa e dar continuidade ao trabalho realizado.

Equipe Lupmed
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