Participe do Aniversário Portal Lupmed: JULHO ESPECIAL!
De volta com a nossa série sobre eletroterapia, finalmente entramos no mundo das correntes utilizadas na prática clínica pelos fisioterapeutas. Neste artigo, vamos falar sobre a Corrente Galvânica.
Agora que já conhecemos os princípios eletrofisiológicos que regem a aplicação de correntes terapêuticas, bem como a interface utilizada para sua aplicação, estamos prontos para entender o que de fato cada tipo de corrente faz no corpo humano, quais são as correntes mais utilizadas, e como e quando elas são aplicadas.
Começaremos então falando um pouco sobre as Correntes Galvânicas (CG). Este tipo de corrente caiu em desuso nos últimos anos, mas veremos aqui que ela ainda possui aplicações práticas, se bem indicada e usada com cautela.
O modelo básico de um estimulador galvânico contém uma corrente direta contínua. Essa é a corrente produzida pelas baterias e aparelhos eletrônicos que conhecemos, e também é conhecida como corrente direta (CD), ou corrente contínua (CC).
Por definição, um estimulador de CC não tem pulsos, portanto não tem parâmetros de pulso ou de forma de onda.
Nos estimuladores de Correntes Galvânicas mais antigos não existem reversão da polaridade e/ou possibilidade de modulação em forma de rampa.
No entanto, é possível gerar uma corrente galvânica interrompida através de um interruptor que permita o encerramento manual da corrente. Em aparelhos mais modernos, o fisioterapeuta pode programar os intervalos de tempo para interrupção e reversão da polaridade da corrente, que são acionados automaticamente durante o tratamento.
As Correntes Galvânicas tem dois tipos básicos de utilização: a Galvanização e a Iontoforese.Vamos falar um pouco, nesse texto, sobre as respostas fisiológicas da aplicação da Galvanização. A Iontoforese será estudada mais a fundo em um próximo texto.
Galvanização
As principais respostas fisiológicas da CC ou corrente galvânica estão em níveis celulares e teciduais.
Mudanças do pH da pele sob o eletrodo promovem a vasodilatação e aumento indireto do fluxo sanguíneo.Os efeitos diretos desta corrente elétrica estão limitados a níveis superficiais (derme e epiderme).
Como o fluxo da CC é prolongado, a amplitude de corrente deve ser extremamente baixa, para limitar o estímulo doloroso.
Respostas excitatórias, ou motoras, que demandam uma maior amplitude de corrente, podem ser obtidas apenas se a corrente galvânica for interrompida. A excitação afeta as fibras nervosas superficiais e normalmente é dolorosa, portanto, pouco tolerada pelos pacientes.
Além disso, a diferenciação entre fibras sensoriais, fibras motoras e fibras condutoras de nocicepção é difícil quando o fluxo da corrente tem duração superior a 500 microssegundos, como é caso da CC.
Quando o músculo está denervado, é possível usar a corrente galvânica interrompida de modo transcutâneo com o intuito de estimular diretamente as fibras musculares denervadas.O efeito desta terapia é o de estimular somente contrações isoladas com grande percepção dolorosa, ou seja, o uso terapêutico excitatório dessa modalidade possui uma efetividade clinica muito limitada.
O valor da corrente galvânica no alivio da dor (com ou sem a iontoforese) pode não ser o tratamento de escolha por causa da estimulação desagradável e potencialmente lesiva.
É preciso ter muito cuidado com o aparecimento de queimaduras químicas na pele como conseqüência da terapia com corrente galvânica. A densidade da corrente e o tempo de tratamento podem contribuir para a estimulação excessiva, gerando lesões.
É preciso levar em consideração, ainda, os efeitos polares e físico-químicos da corrente galvânica.
O corpo humano pode ser considerado como um corpo embebido em água, formado por compartimentos separados por divisórias protoplásmicas muito finas, que contém numerosas moléculas (NaCl) e íons, como o Na+ e K+.
Essa mistura de água, moléculas e íons, forma uma solução que, ao ser atravessada por uma corrente direta, passa por uma migração de íons e quebra das moléculas de água – hidrólise.
Íons positivos migram para o cátodo, configurando-o como o pólo positivo, por convenção, aquele do qual sai a corrente, e íon negativos migram para o anodo, caracterizando-o como o pólo negativo, aonde chega a corrente.
Ocorre, ainda, uma reação básica, com conseqüente liberação de hidrogênio. no pólo negativo, e uma reação ácida, e liberação de oxigênio, no pólo positivo, configurando os principais efeitos pela hidrólise promovida pela corrente galvânica.
Lembrando que a intensidade de cada reação varia de acordo com a intensidade da corrente.
A partir das diferentes reações formadas em cada um dos pólos, temos diferentes efeitos da corrente.
No catodo, ocorre vasodilatação, e uma maior hiperemia capilar. Dessa forma, o efeito no catodo é estimulante.
No anodo, existe uma maior ação analgésica, associada a vasoconstrição de pequenos vasos. Por isso, seu efeito é majoritariamente sedativo e analgésico.
A CG possui propriedades polares responsáveis por um efeito galvanotônico, que consiste em uma onda de despolarização que se propaga. Quando aplicamos sobre um nervo periférico eletrodos ligados a uma fonte de corrente galvânica constataremos hiperexcitabilidade sob o catodo (catoeletrotônus) e diminuição da excitabilidade sob o anodo (anoeletrotônus).
Devemos levar em consideração, ainda, os efeitos interpolares da corrente galvânica. Eles têm relação com a condutividade dos tecidos. A corrente unidirecional e seu campo elétrico atingem uma região, e a atravessam, dependendo da condutância do sistema. Ou seja, em vias de maior condutância, ou menor resistência, a corrente flui com mais facilidade, configurando um trajeto disforme das linhas de força do campo elétrico.
A condutância de um tecido é diretamente relacionada ao seu grau de hidratação.
Todos os efeitos acima explicitados se traduzem em efeitos fisiológicos, que serão utilizados para a escolha da terapia.
A estimulação vasomotora provocada pela corrente galvânica aumenta a nutrição da região situada entre os eletrodos, gerando uma reabsorção dos metabólitos, e contribuindo para a diminuição de edemas.
A repetição do tratamento contribui, ainda, para regeneração tecidual.
Devemos levar em consideração, também, a sensação do paciente, ao prescrever a terapia. De forma prática, quando colocamos uma região do corpo humano no campo de uma corrente galvânica com o auxílio de dois eletrodos, temos:
- Ligeira sensação de formigamentos e picadas em nível dos eletrodos;
- Hiperemia galvânica devido à estimulação química dos capilares (efeito vasomotor) apresentada na pele após a remoção dos eletrodos ao final da terapia, que dura de 20 a 30 minutos;
- Se a intensidade da corrente é suficientemente alta, ocorre hiperemia, e um efeito conhecido contra-irritação, que auxilia no controle da dor.
Vale ressaltar que a resistência da pele diminui gradualmente e o paciente pode, com o tempo, tolerar uma quantidade maior de eletricidade.
Como prescrever a Corrente Galvânica?
Agora que conhecemos os efeitos das correntes galvânicas, assim como suas indicações, vamos resumir de forma objetiva a prescrição desse tipo de eletroterapia.
- A intensidade da corrente é traduzida em miliampère – mA.
- A corrente deve ser sempre tolerada pelo paciente, sem sensação desagradável.
- A dose depende do tamanho dos eletrodos, que determina a densidade de corrente. A densidade de segurança é 1mA/cm2.
- A despolarização da pele diminui a resistência, o que se explica no começo da sessão por um aumento da intensidade. Há um declínio a partir de alguns minutos de aplicação.
- É preferível utilizar densidades fracas, em sessões de 20 a 30 minutos, do que intensidades maiores em sessões mais curtas.
- No inicio da sessão fechamos o circuito e aumentamoslentamente a intensidade.
É importante ressaltar, no entanto, que cada paciente deve ser avaliado de forma individual, e que um treinamento prévio adequado é fundamental para a segurança do tratamento.
No nosso próximo encontro exploraremos um pouco mais a Corrente Galvânica, sua aplicação na Iontoforese, e outras informações pertinentes à aplicação correta dessa corrente em eletroterapia.
Para ler os outros artigos da nossa série de Eletroterapia, Clique Aqui.
- Acesse nossa Página do Facebook – https://www.facebook.com/lupmed
- Acesse nosso Instagram – https://www.instagram.com/lupmed