8 Aplicativos de Fisioterapia para Tornar Seu Diagnóstico Mais Preciso

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A Tecnologia dos Aplicativos como Recurso para Seu Diagnóstico Fisioterapêutico

Um dos maiores incômodos que eu tinha na faculdade era durante o diagnóstico de um paciente, quando a turma estava analisando marcha e alguém dizia que o paciente apresentava uma grande alteração na pisada e eu não via nada! Ainda bem que hoje em dia já temos recursos para minimizar essa situação e melhorar nosso diagnóstico.

Acredito que essa sensação não era só minha, mas por medo de se passar por desentendido, muitos optavam por se omitir e aceitar passivamente o diagnóstico dos colegas.

Na realidade, esse é um dos grandes problemas na Fisioterapia, na minha opinião: A subjetividade dos dados. Felizmente, recursos tecnológicos atuais, como aplicativos para celular, vêm dar subsídios para alterar esse quadro.

Exatamente, aplicativos de fisioterapia para celular! Quando pensamos em aplicativos (app), a primeira ideia que vem à mente é entretenimento, nos remetendo a apps de comunicação como o WhatsApp, de rede social como Instagram, jogos ou outros do gênero.

Porém, assim como na população, profissionais de saúde também refinam e inserem o uso dos smartphones em sua prática clínica com os pacientes. Lippman, em 2013, publicou um artigo intitulado “Como os aplicativos estão mudando a medicina da família”, em que aponta que existem de mais de 40 mil aplicativos da área da saúde e que 74% dos médicos (EUA) empregavam o celular para o trabalho e para prescrever tratamentos.

Essa tendência abrange não apenas a medicina, mas também a Fisioterapia. (Milani Et al. 2014) fizeram uma revisão a respeito de aplicativos de fisioterapia para mensuração da posição de ângulos articulares e observaram que diversos apps tinham esse objetivo e apresentavam propriedades apropriadas para a medição da amplitude de movimento ou flexibilidade.

(Santos Et al. 2012), observaram que inclinômetros digitais podem ser superiores ao goniômetro na obtenção de medidas e atribuiu esse fato a necessidade reduzidas de referências anatômicas para analise (basta apenas posicionar o aparelho no segmento que se quer testar e verificar a medida obtida), conforme demonstrado na figura 1.

Aplicativos para Fisioterapia
Figura 1. Proposta do Teste de Thomas e posicionamento do smartphone para medidas da flexibilidade com o uso do inclinometro. Legenda: Parte superior: Teste normal; Parte inferior: Teste alterado. O posicionamento do smartphone para leitura do inclinometro é ilustrado pelo retângulo preto sobre a coxa do paciente

Conforme observado na figura, o posicionamento do aparelho irá retornar à inclinação do segmento. Essa medida poderá ser empregada como parâmetro para verificação da progressão do tratamento. Assim como no teste de Thomas para flexibilidade de iliopsoas, um raciocínio semelhante pode ser empregado para diversos testes de flexibilidade ou de amplitude de movimento articular, como por exemplo, no teste de rigidez de rotadores externos de quadril (Carvalhais Et al. 2011).

Além de inclinômetros, aplicativos de registro de vídeo ajudam bastante na prática clínica, desde o diagnóstico fisioterapêutico até a mesuração dos resultados obtidos. (Belyea Et al. 2014) examinaram a validade e a confiabilidade do uso do aplicativo “Spark Motion” de análise de movimento para avaliar o alinhamento de joelho e quadril, nos planos sagital e frontal, durante o salto vertical (Figura 2), e comparou os resultados obtidos por um sistema tridimensional de captura de movimento.

app fisioterapia
Figura 2. Comparação da avaliação do movimento a partir do registro em aplicativo com sistemas de análise 3D

Houve correlações significativas entre as medidas de ADM do aplicativo e do programa 3D. O ICC(2,1) das medidas variaram de .80 a .94, e o erro padrão da mensuração de 1,9º a 5,4º, indicando ser um método confiável para avaliar os alinhamentos de membros inferiores durante o salto vertical, entretanto os ângulos absolutos de articulações devem ser ponderados frente a esses dados.

Ou seja, saímos daquela inquietação da análise subjetiva em que alguns alunos ou avaliadores viam e outros não, para recursos simples e acessíveis que tentam colocar maior objetividade nos fatos.

(Finkbiner et al. 2017) testaram a validade concorrente das medidas cinemáticas de flexão de joelho durante o contato inicial e na retirada dos dedos na marcha, registradas pelo aplicativo HUDL Technique – anteriormente chamado Übersense, e também comparou às medidas registradas por um sistema de captura de movimento 3D no plano sagital.

Esse aplicativo de fisioterapia testado por Finkbiner, o HUDL, está disponível para as principais plataformas operacionais (IOS e Android) e é gratuito.

Mas como usá-lo?

Segue abaixo uma breve descrição de sua utilização para análise de pacientes (Figura 3).

aplicativos para fisioterapia
Figura 3. Análise, usando o app HUDL Technique, pós e pré tratamentoda amplitude máxima de abdução de ombro em um paciente com ruptura total do tendão do supra, infraespinhoso e da cabeça longa do bíceps braquial tratado conservadoramente. – Legenda: Amplitude máxima de abdução de ombro após 3 semanas de tratamento à esquerda e no dia da avaliação inicial à direita.

Filmagem

O uso clínico de aplicativos de fisioterapia se inicia com o registro do vídeo. Para isso é importante alguns cuidados, como apoiar bem o telefone para que a imagem não fique tremida e comprometa a análise. Ter uma boa fonte de iluminação e que essa fonte não fique à frente do aparelho afetando a qualidade da imagem. É importante também manter o posicionamento do paciente e da câmera de forma que todos os pontos de interesse sejam captados.

Análise

Após o registro as principais ferramentas para análise são o avanço em câmera lenta ou quadro a quadro, o qual pode ser obtido pela movimentação do tracejado na parte inferior do vídeo, que funciona como uma manivela. Outro recurso importante é o zoom, que é obtido clicando em dois pontos sobre o local de interesse e afastando os dedos.

Recursos complementares, como a análise de ângulos ou demarcações sobre o vídeo podem ser obtidos clicando sobre o pincel presente na região superior à direita do vídeo (Figura 4).

app de fisioterapia
Figura 4. Tela com registro de vídeo do aplicativo HUDL Techinique – Seta vermelha: local para expansão dos recursos de demarcações sobre a imagem

Esses são recursos simples, dentro de uma gama de outros dispostos no aplicativo (que podem ser descobertos através de seu próprio manuseio), mas que com certeza irão contribuir para acabar com aquela velha dúvida quanto a “grande alteração na marcha” que não era perceptível.

Comparação

Uma última ferramenta que vale citar é a de comparação. Ao se clicar nos dois retângulos acima do pincel citado anteriormente (em algumas versões do aplicativo), ou sobre o item “compare” (em outras), irá permitir abrir mais um vídeo que será colocado lado a lado com o anterior, permitindo análises pós e pré ou o oposto, conforme demonstrado na figura 3.

A Fisioterapeuta Dra. Natália Silva Amaral fez um trabalho de conclusão do curso de especialização em Fisioterapia Esportiva da UFMG analisando a validade, confiabilidade e aplicabilidade de aplicativos para análise do movimento. Seu estudo está em revisão para publicação e logo será disponibilizado, mas o que foi verificado foi uma série de empregos clínicos que vão desde análises de salto, registro de movimentos 2D, mensurações de parâmetros espaço-temporais do deslocamento e testes funcionais.

Lista com 8 Aplicativos de fisioterapia citados pela Fisioterapeuta Dra. Natália Silva Amaral:

#1 – HUDL Technique (Ubersense Inc)

Já citado. É um aplicativo listado na categoria “esportes”, mas que é uma ferramenta muito útil para o fisioterapeuta. Permite que você analise vídeos utilizando recursos como: Vídeos em slow motion, comparar 2 vídeos lado a lado, usar uma ferramenta de desenho medir ou destacar algo no vídeo, etc.

O HUDL Technique
 é gratuito e está disponível para Android e IOS.

#2 – My Jump 2 (Carlos Balsalobre)

Também listado na categoria “esportes”, o My Jump 2, como o nome já entrega, é um app voltado para saltos. Permite que você grave um salto e depois analise com as métricas que ele possui como: Altura dos saltos, relação força-velocidade, etc. Além de você poder acompanhar a evolução dos saltos gravados, você pode exportar os dados para um Excel, por exemplo, para analisar seus resultados. É um grande aliado na avaliação de atletas.

O My Jump 2 está disponível para Android e IOS por R$32,90.

#3 – Runmatic (Carlos Balsalobre)

Mais um app listado na categoria “esportes”. Desenvolvido por cientistas esportivos e treinadores de corredores de elite, o Runmatic é um app cientificamente designado para análises da técnica da corrida e prevenção de lesões decorrentes de má técnica, mas também pode ser muito útil para a fisioterapia.

O Runmatic está disponível apenas para sistemas IOS por R$32,90.

#4 – Spark Motion Pro (Spark Motion Inc)

Outro aplicativo já citado. Agora um app listado na categoria “Saúde e Fitness”. Desenvolvido para análises de movimento, o Spark Motion Pro é uma ferramenta essencial se você deseja gravar e avaliar o movimento na palma da mão. É um ótimo aliado para quem deseja dar um feedback rápido para o paciente.

O Spark Motion Pro é gratuito e está disponível para sistemas AndroidIOS, mas foi especificamente desenvolvido para o IPad.

#5 – SmartGait (SmartGait LLC)

Um app listado na categoria “Médico”. “Queremos ajudar pessoas mais velhas a evitar quedas” é o que diz a descrição do aplicativo na AppStore. A tecnologia promete ser um avaliador de marcha. Por meio do aplicativo e outros acessórios, o SmartGait alerta os usuários sobre um risco de queda ou perigo à saúde relacionado ao andar do paciente.

O SmartGait é gratuito e está disponível para o sistema IOS, mas são necessários outros acessórios além do smartphone. Clique aqui para acessar o site dos desenvolvedores.

#6 – Coach’s Eye (TechSmith Corporation)

Mais um app listado na categoria “esportes”. Semelhante ao HUDL, Coach’s Eye promete ser uma ferramenta avançada de treinamento e gerenciamento de conteúdo. Nele você pode gravar o paciente e mostrar instantaneamente como melhorar o movimento. Ideal para mostrar ao paciente a forma correta de levantar um peso, por exemplo.

O Coach’s Eye está disponível para sistemas Android e IOS por R$16,90.

#7 –  Formulift (Indisponível)

Ainda disponível apenas para pesquisas, mas muito promissor, o Formulift é um aplicativo recém desenvolvido que se conecta a uma Unidade de Medida Inercial (IMU) usada na coxa esquerda. A IMU captura os movimentos dos usuários enquanto eles se exercitam, e o aplicativo analisa os dados para contar repetições em tempo real e classificar a técnica de exercícios de quem está sendo avaliado. O aplicativo também oferece o feedback e orientação aos usuários sobre o exercício de forma segura e eficaz.

O Formulift, no momento, está disponível apenas para pesquisa. Clique aqui para ler o estudo completo em inglês se quiser mais informações.

#8 – My Sprint (Pedro Jimenez Reyes)

Mais um app listado na categoria “esportes”. App destinado à mensuração do sprint, saída de potência e aceleração direta são uma combinação importante de desempenho em muitas atividades esportivas. O aplicativo te ajuda a determinar o perfil individual da relação de força-velocidade, potência máxima e eficácia mecânica durante a propulsão de sprints. É um aplicativo muito interessante para treinadores, praticantes de esportes e fisioterapeutas.

O My Sprint está disponível para IOS por R$32,90.

-> Você também pode se interessar: O Fim da Fisioterapia

Conclusão

Por fim, apesar desse potencial benefício no uso de aplicativos de fisioterapia na saúde do paciente, vale fazer algumas ressalvas e é importante ter cautela com seu emprego indiscriminado.

Em 2014, van Mechelen e colaboradores publicaram um estudo mostrando que o uso de aplicativos na prática da prevenção esportiva estava enviesada e chegaram a uma conclusão intrigante: Apesar de estarem sendo lançados diversos aplicativos para a área de estudo e intervenções no movimento, vários deles são desenvolvidos por leigos, sem muito domínio sobre o tema, de forma que poucos tem validação científica (4 de 18 aplicativos pesquisados) e alguns apresentavam informações falsas, o que nos faz ficar alerta com a utilização desse recurso.

Sugere-se então priorizar aplicativos de fisioterapia pesquisados, em literatura científica reconhecida quanto a suas propriedades ou desenvolvidos por profissionais da área. Como sugestão nesse quesito vale conhecer o Phast, desenvolvido por renomeados pesquisadores da área de fisioterapia esportiva nacional.

Tecnologia são recursos que resolvem problemas. Nesse quesito, aplicativos de fisioterapia podem ser um dos maiores avanços disponíveis na clínica nos dias atuais. Todavia, vale observar que, assim como todo instrumento clínico, seu uso requer ressalvas para a melhor prática e ajudar verdadeiramente o paciente.

REFERÊNCIAS

Carvalhais VOC, Araújo VL, Souza TR, Gonçalves GGP, Ocarino JM, Fonseca ST. Validity and reliability of clinical tests for assessing hip passive stiffness. Man Ther. 2011;16(3):240-5

FINKBINER, M.J., GAINA, K.M., MCRANDALL, M.C., WOLF, M.M., PARDO, V.M., REID, K., ADAMS, B., GALEN, S.S. Video Movement Analysis Using Smartphones (ViMAS): A Pilot Study. J. Vis. Exp. V. 121, pg. 1 – 7, Mar 2017.

Lippman H. How apps are changing family medicine. J Fam Pract. 2013 Jul;62(7):362-7.

Milani P, Coccetta CA, Rabini A, Sciarra T, Massazza G, Ferriero G. Mobile smartphone applications for body position measurement in rehabilitation: a review of goniometric tools. PM R. 2014 Nov;6(11):1038-43

Santos Carolline Maciel dos, Ferreira Gilver, Malacco Priscilla Lorenzatto, Sabino George Schayer, Moraes Geraldo Fabiano de Souza, Felício Diogo Carvalho. Confiabilidade intra e interexaminadores e erro da medição no uso do goniômetro e inclinômetro digital. Rev Bras Med Esporte. 2012

van Mechelen DM, van Mechelen W, Verhagen EA. Sports injury prevention in your pocket?! Prevention apps assessed against the available scientific evidence: a review. Br J Sports Med. 2014 Jun;48(11):878-82.

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George Sabino
George Sabino
George Sabino é fisioterapeuta, mestre em Ciências da Reabilitação, professor da Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais, Coordenador científico da Pós graduação em Movimento Humano e conselheiro da Associação Mineira de Fisioterapeutas (AMF). Ele tem 13 anos de experiência clínica e docente na área de Fisioterapia e é fundador da Propulsão, uma empresa especializada na avaliação do movimento, fundada há mais de 10 anos em Belo Horizonte e que acredita na importância da prática de uma Fisioterapia individualizada e de qualidade, para ajudar cada indivíduo a explorar o mundo em sua máxima capacidade.

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