Os games, além de puro entretenimento para muitas pessoas, também são um meio de se alcançar objetivos fisioterapêuticos.
Há atualmente um bom acervo nacional e internacional para utilizarmos a gameterapia, como Jogos eletrônicos, realidade virtual e seus subtipos.
Muitos pacientes acham os exercícios monótonos, por mais funcionais que sejam.
Assim, usar a tecnologia como aliada, pode melhorar muito a adesão às terapias.
Além disso, a gameterapia pode proporcionar o desenvolvimento de habilidades perceptomotoras, como reflexo e agilidade.
Veja como isso ocorre.
Conhecendo a realidade do paciente
É muito provável que você, profissional, consiga mensurar exatamente o que é ser paciente e passar por dezenas de atendimentos em busca de prevenção ou reabilitação.
A primeira sensação que vem à mente do seu cliente, com relação aos exercícios, é a monotonia.
E quando o treino evolui só com séries e repetições, as coisas só pioram.
Além disso, ele tem que lidar com a dor.
Pacientes com doenças ortopédicas crônicas, por exemplo, são pessoas que convivem com dor por anos a fio.
Mas ainda assim executam os movimentos, geralmente dolorosos, e continuam buscando obter resultados com o tratamento.
E aí chegamos na questão do objetivo.
Muitos pacientes são ocupados com escola, trabalho e sua tarefas diárias.
Então, tenha em mente que a fisioterapia não é algo ansiosamente esperado por eles.
Assim, você deve assumir a responsabilidade de ajudá-lo a superar estas dificuldades, fazê-lo ver que existe uma lógica em todas as suas recomendações e fazer com que os exercícios sejam mais interessantes para ele.
Mesmo quando você explica toda a cadeia da disfunção e suas implicações, isso não é o suficiente para que o paciente entenda que há um motivo especial para que ele saia do conforto da sua casa para realizar exercícios.
E no ambiente hospitalar, onde é mais difícil aplicar a gameterapia, mas não impossível, é também complicado acordar o paciente ou tirá-lo de uma posição de conforto para priorizar a mobilização precoce e a independência.
Veja quais são os benefícios da gameterapia e porque eles podem te ajudar
Vamos listar aqui as principais vantagens ao investir na gameterapia:
- Atendimento menos doloroso, menos monótono e mais proveitoso
- Melhora das funções cerebrais e concentração
- Melhora do equilíbrio
- Fortalecimento muscular
- Melhora da autoestima, competitividade e sociabilidade
- Diminuição no tempo de tratamento
- Substituição do uso de alguns aplicativos e instrumentos para avaliação quantitativa
- Maior precisão na captação e registro das atividades osteomusculares
- Ausência de efeitos colaterais
- Muitas possibilidades de tratamento
- Mínimas contraindicações
- Alternativas a tratamentos farmacológicos e treinamentos físicos auxiliando a Fisioterapia tradicional, Terapia Ocupacional e Educação Física
- Tratamento não invasivo
Vamos apresentar em seguida alguns exemplos de games e você compreenderá melhor a origem desses benefícios.
As principais desvantagens, no entanto, são: a questão do investimento financeiro para adquirir os aparelhos necessários e algumas contraindicações (como idosos que já possuem o cognitivo muito debilitado).
1 – Sistema de reabilitação Jintronix (JRS)
A Jintronix é uma empresa canadense, criada em 2009, que possui grande alcance internacional.
Começando pelo próprio país e também pelo vizinho, EUA, tem alcançado dezenas de clínicas. O JRS é fundamentado na captação de movimentos do paciente, similar ao console pioneiro desta técnica, Nintendo Wii.
O Jintronix, por sua vez, utiliza a web e o Kinect — um sensor da Microsoft — para registrar os dados dos movimentos e analisar o progresso. Todos esses dados são próprios para a avaliação do fisioterapeuta de como a terapia está evoluindo.
Dessa forma o profissional pode modular todos os parâmetros do exercício baseado no feedback real, quantitativamente mensurado pelo sistema.
Além da possibilidade de modificar os parâmetros dos exercícios terapêuticos, o fisioterapeuta também pode modificar as animações dos jogos.
O Jintronix permite a modificação da circulação e da presença de objetos, velocidade e posicionamento no jogo.
Essa facilidade é uma boa reação ao que tem acontecido nas inovações tecnológicas em fisioterapia.
É relativamente fácil de encontrar jogos pré-definidos que buscam o tratamento do paciente sob a ótica médica. Esse tipo de sistema de jogos, como o JRS, já permite uma maior autonomia do fisioterapeuta na sua prática.
Uma curiosidade: esse sistema, junto com o sensor, é capaz de monitorar a atividade de 20 articulações ao mesmo tempo.
A empresa também atende a alunos e docentes de fisioterapia e procura parcerias em universidades e grupos de pesquisa para divulgar seu produto.
- Veja mais: A Inibição de Neurônios Inibitórios faz com que ratos com lesão medular andem novamente – Pesquisa
Um dos exemplos dessas parcerias já fechadas é com a Associação Brasil Parkinson (ABP). Sabemos que a Doença de Parkinson, geralmente, demanda que o paciente esteja fisicamente ativo, constantemente.
Porque, se o paciente interrompe seus exercícios terapêuticos, os medicamentos, sozinhos, não são capazes de prevenir totalmente a perda de equilíbrio e outras capacidades motoras.
E os associados da ABP, para quem tiver disponibilidade, ou seja, possuir um computador simples e o Kinect, podem realizar os exercícios da gameterapia em casa e enviar os resultados via internet.
Algumas universidades já aderiram à terapia com jogos, onde se pode trabalhar a Esclerose Múltipla, Acidente Vascular Cerebral (AVC) e Paralisia Cerebral.
Segundo relatos de cuidadores de pacientes de uma destas universidades, seus clientes passaram a ter mais confiança para realizar atividades.
Houve inclusive relato de um paciente de 8 anos de idade com Paralisia Cerebral, por exemplo, que passou a pular corda depois que experimentou os jogos.
O JRS, assim como vários aplicativos, está sempre sofrendo atualizações.
O próprio sensor vem sendo sempre otimizado e os programas vão sendo alimentados com novos exercícios e funcionalidades, sem maiores custos ao usuário.
1 – NeuroUp
A NeuroUp, surgiu no Brasil em 2014 no estado de Pernambuco, em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
Como o próprio nome diz, é mais relacionada a pacientes neurológicos e por isso tem algumas diferenças com relação a JRS.
Pelo fato de muitos desses pacientes apresentarem paresia ou plegia em seus membros, a lógica é oposta: o computador cria movimentos a partir de ondas cerebrais estimuladas pelo próprio jogo.
Então o jogo estimula o cérebro do paciente, o paciente reage e o jogo capta as informações traçando movimentos com os personagens dos games.
É dessa forma que o usuário desenvolve a habilidade de controlar e recuperar os músculos interagindo com o jogo.
Isso é feito muitas vezes por meio da força física do fisioterapeuta, estimulando, por meio de terapia manual e cinesioterapia passiva, e se torna monótono e desgastante para o profissional.
Além disso, esse sistema tem todo um critério de pontuação para que o paciente progrida na terapia e melhore o seu corpo como um todo, de acordo com as fases do jogo.
A NeuroUp também permite que o fisioterapeuta module vários parâmetros, sem necessariamente conhecer computação.
E os resultados de cada atendimento também são fornecidos imediatamente ao paciente e ao profissional, como um biofeedback.
Além de distúrbios neurofuncionais, esse sistema também é útil no bruxismo e nas cefaleias.
Segundo a empresa, a partir de quatro atendimentos, é possível obter melhoras.
O Pilates também pode ser potencializado com a utilização do jogo, provavelmente pelo biofeedback eficiente.
Pensando no AVC, o software foi criado para captar movimentos mínimos e contrações musculares imperceptíveis ao olho nú do fisioterapeuta.
São sinais bioelétricos, que só um sistema poderia registrar.
E foi justamente essa a motivação que o criador, também fisioterapeuta, desenvolveu a ferramenta junto com um engenheiro eletrônico e biomédico.
Ele buscava uma solução para mensurar melhor os avanços funcionais do paciente— mesmo que pequenos e até invisíveis.
Então em 2010 ele buscou inspiração e encontrou alguns rumos dessa ferramenta na Espanha, com modelos parecidos, mas que não existiam aqui no Brasil.
Aqui, no nosso país, só haviam ferramentas que auxiliavam no diagnóstico de epilepsia.
E então, o empreendedor, a partir de suas pesquisas, pôde adaptar e criar a NeuroUp.
Hoje o sistema tem obtido mais visibilidade por ter participado de um evento sobre inovação tecnológica na França e pelos clientes aqui no Brasil também.
Em 2017 foi firmada parceria com a Samsung.
3 – Fisiogames
A startup, também nacional, de Santa Catarina, foi pioneira no desenvolvimento de jogos para a saúde.
A plataforma Fisiogames foi pré-lançada nos EUA e atualmente já ofereceu capacitação para ser utilizada no Sistema Único de Saúde (SUS).
Os cofundadores são da área da computação, mas contam com fisioterapeutas consultores.
Desde 2009, em Florianópolis, eles têm desenvolvido a plataforma que permite ao profissional, criar um programa a partir de dezenas de exercícios.
Esse tipo de produto é novidade também no exterior. Por isso uma das características mais comuns entre os criadores desses games, é o diálogo com outros países.
A Fisiogames é uma plataforma também baseada no Kinect.
O paciente deve logar na conta, selecionar os exercícios já prescritos pelo fisioterapeuta e jogar pelo computador mesmo.
4 – Realidade Virtual do Laboratório de Urofisioterapia da Universidade Federal de Alfenas (Unifal)
A Realidade Virtual (RV) surgiu na ocasião da criação de simuladores de voos para pilotos em formação no pós-Segunda Guerra Mundial.
Depois desses acontecimentos traumáticos, as indústrias de entretenimento passaram a propagar essa tecnologia.
Os primeiros trabalhos científicos, envolvendo Realidade Virtual, surgiram depois que a Philco produziu uma cabine composta por duas câmeras e um capacete com monitores, que permitiam ao usuário vivenciar a sensação de imersão.
Nos anos 60 surgiu a possibilidade de desenhar, na tela do computador, usando uma caneta óptica. Também foi criado um vídeo-capacete para gráficos que permitiam ao indivíduo visualizar diferentes lados de um cubo, à medida que mova sua cabeça.
E assim a história da RV foi se desenrolando até chegar nas ciências da saúde, na qual encontrou muito espaço.
Hoje, quando se precisa fornecer aprendizado e controle motor, seja para o paciente neurológico ou não, essas tecnologias são muito eficazes.
A Unifal, em parceria com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), desenvolveu uma proposta de gameterapia baseada em realidade virtual.
Esse sistema pode ser utilizado por mulheres, homens e crianças.
Tem uma interface muito familiar, já que são de jogos já existentes, e muito divertidos.
Com o estudo de médicos urologistas e fisioterapeutas de ambas as universidades, a Unifal foi suprida com um laboratório de treinamento por meio de realidade virtual para que os pacientes possam realizar os exercícios junto com um biofeedback visual.
Esses jogos compõem um tratamento fisioterapêutico de fortalecimento da musculatura do assoalho pélvico.
Os pacientes se sentam em uma plataforma que envia as informações dos movimentos ao computador para fazer essa comunicação com o jogo.
Esse método prioriza a contração do períneo e dos músculos da região inferior do abdômen.
Os pesquisadores já constataram a melhora da aderência e motivação das pacientes aos exercícios, quando a realidade virtual é utilizada.
E em termos mais clínicos, a proposta já provou aumentar a força dos músculos componentes do assoalho pélvico e diminuir a perda de urina na população feminina pós-menopausa.
Gameterapia e o impacto na sociedade
Pelo que vimos no post, os jogos podem servir para uma diversidade de casos: doenças ortopédicas gerais, doenças neurológicas, doenças uroginecológicas, hábitos parafuncionais (com o bruxismo) e até mesmo na otimização de exercícios de Pilates.
Além disso, independente da condição de saúde, vimos as vantagens dos jogos no cognitivo do paciente, bem-estar e funções cerebrais.
A criação das plataformas também permite uma multiprofissionalidade muito rica e que produz ainda mais resultados aos pacientes, que receberão um olhar mais holístico.
Do ponto de vista socioeconômico temos também a exportação dessa tecnologia nacional a outros países.
Lembrando que, em um passado não tão distante, quando se falava em gameterapia na Fisioterapia, não se tinha nenhum vislumbre de como isso poderia acontecer na prática.
Achávamos que seria algo de Primeiro Mundo e que dificilmente teria como funcionar aqui.
Hoje, os sensores, computadores e tablets estão bem mais acessíveis, permitindo que se possa aproveitar esses softwares para otimizar nossa conduta, seja melhorando a confiabilidade da nossa avaliação, quanto proporcionando um atendimento mais agradável. Os jogos estão fortemente a favor dos exercícios terapêuticos.
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