A base do entendimento do movimento humano é a anatomia, pois com o bom conhecimento da anatomia é possível diagnosticar ou mesmo prever uma disfunção. Newman et al, 2012, sugerem que a palpação de pontos anatômicos específicos, por exemplo, é capaz de indicar aqueles indivíduos que estão em risco de desenvolver a síndrome do estresse tibial medial ao realizar atividades físicas no futuro.
Isto é, o profissional que trabalhe com o movimento e atenda corredores ou outro grupo de indivíduos que executem uma atividade que apresente prevalência elevada de canelite, devem incluir a palpação do terço médio da tíbia rotineiramente em sua avaliação para detectar indivíduos mais propensos a desenvolverem essa patologia e, caso observe um sinal alterado, fique mais atento com ele.
Mas não apenas isso, a anatomia aplicada à prática ajuda a entender importantes disfunções do movimento, explicando, por exemplo, como uma alteração de força no quadril pode sobrecarregar a patela. Cohen et al, 2002, no estudo anatômico das inserções do trato iliotibial, observou que:
“… o Trato IlioTibial (TIT) não apresenta inserção isolada no tubérculo de Gerdy, como se pode pensar. O TIT possui ampla inserção periarticular”
E complementa relatando que o TIT apresenta uma inserção patelar ampla, que se funde com o retináculolateral. Isto é, alterações no movimentos e nas forças produzidas no quadril (como a ativação excessiva do músculo tensor da fáscia lata (o qual se insere no trato) podem tencionar o TIT, levando a sobrecarga e disfunções na patela.
Dessa forma, o tratamento isolado do joelho não é capaz de melhorar uma síndrome patelofemoral quando esta for uma de suas causas. Powers, 2010, vai mais profundo ainda nessa análise, relatando que o controle muscular prejudicado, seja do quadril, pelve ou tronco, pode afetar as forças sobre a patela em múltiplos planos, recomendando a avaliação e atenção no quadril em pacientes com problemas no joelho.
Assim, o entendimento da anatomia não apenas permite um tratamento mais resolutivo, mas também interfere na forma que compreendemos a profissão da Fisioterapia. Entendendo-se que a Fisioterapia é uma profissão que busca restituir ao indivíduo a sua funcionalidade, intervindo através do movimento, o profissional não pode ser especialista em uma articulação – considerando que a condição de uma região irá influenciar a outra – e precisa entender o paciente como um todo.
Assim compreender a anatomia é a base para todo esse processo e compreendendo-a em sua intimidade, é além de prevenir disfunção, permite ao profissional assumir sua identidade e agir com maior propriedade.
Dessa forma, vamos estuda-la, segue abaixo a referencia dos artigos citados para quem quiser conhecer mais sobre o assunto:
Newman P, Adams R, Waddington G.Two simple clinical tests for predicting onset of medial tibial stress syndrome: shin palpation test and shin oedema test. Br J Sports Med. 2012 Sep;46(12):861-4.
Cohen M, Vieira EA, Silva RT, Vieira ELC, Berlfein PAS. Estudo anatômico do trato iliotibial: revisão crítica de sua importância na estabilidade do joelho. Rev Bras Ortop. 2002;37(8):328-35