O FIM DA FISIOTERAPIA

A Fisioterapia poderia ser substituída pela tecnologia?

Será o fim da Fisioterapia?

A tecnologia traz ganhos consideráveis para a população, mas também momentos de insegurança para alguns. Ao mesmo tempo que ela otimiza algumas práticas, ela extingue outras e como exemplo disso, podemos citar os fotógrafos de parque (lambe-lambe), as ascensoristas de elevador ou os proprietários de locadoras de DVD, que foram suplantados pela tecnologia de streaming de vídeo on-line sob demanda.

Outros casos ainda se desenrolam, como a disputa ‘aplicativos x taxi’. Para se ter uma ideia, em São Paulo, o Uber tem 150 mil motoristas cadastrados (que realizaram viagens todo mês) contra 38 mil taxistas.

Ou o Airbnb versus redes hoteleiras.

Tem muita gente ainda questionando sobre ações na internet, cursos online, aplicativos, entre outras coisas.

Mas o que muita gente não sabe é que a era digital já acabou. Estamos vivendo o pós-digital.

Teoricamente então, a era digital já está ultrapassada.

E o que é isto? É que a era acaba quando ela se torna padrão.

Sempre que uma era surge ela tem duas determinantes: o deslumbre e o medo.
Quando o mundo digital chegou, por volta de vinte anos atrás, todos ficaram fascinados e ao mesmo tempo temerosos.

Lembra como foi legal baixar um vídeo?

Mas você deve ter tido medo de usar um caixa eletrônico ou passar o cartão de crédito num e-commerce, não teve?

Quando o deslumbre e o medo vão diminuindo, o que era exclusivo de algumas pessoas, tornam-se corriqueiras para todos.

As pessoas vão se acostumando com as novidades e elas se tornam parte do cotidiano. E quando você se dá conta, a internet e o digital já fazem parte integral da sua vida.

Quanto tempo as pessoas passam hoje na frente do celular?

Agora, estas coisas não são mais novidade e quem não se adaptar a esta realidade, não irá sobreviver. Não porque a tecnologia é perversa e vingativa, mas porque como ela vem para resolver problemas e facilitar a vida, sua aversão incorre no enfretamento de obstáculos já suplantados.

A tendência é que cada vez mais novas tecnologias e a inteligência artificial irão substituir várias funções.

E a velocidade que isto está acontecendo é assustadora. Quando você está pensando na possibilidade, ela já aconteceu.

Você está preparado para isto?

Tem-se que matar um pássaro em pleno voo, ou melhor, tem-se que mirar onde ele estará, porque se você mirar onde ele está, você não o acertará.

Transportando para a fisioterapia…

Hespanhol, van Mechelen e Verhagen publicaram em 2017 um artigo verificando a efetividade de um programa on-line para prevenção de lesões relacionadas à corrida e observaram que essa abordagem reduziu as lesões nos corredores da Holanda.

Tal qual esse sistema, outras abordagens tecnológicas podem surgir e buscarem otimizar a prática.

Mas isto seria um risco para a profissão?
A resposta, na minha opinião: depende.

Frey e Osborne em 2013 escreveram um artigo usando um processo de classificação probabilístico analisando as profissões que acabariam ou seriam substituídas pelos computadores.

Como ocorreu com as operadoras de telefone (que faziam as ligações e transferiam os telefonemas, antes de um sistema automático existir), está acontecendo com caixas de banco, dentre outras.

Segundo seu estudo, 47% das profissões atuais serão substituídas pela informatização nos próximos 10 anos.

Suas conclusões foram interessantes.

As profissões com menor salário e menor necessidade de capacitação e estudos serão as primeiras a serem substituídas.

E aí está o porquê da resposta “depende “para a questão anterior.

Ou seja, para a Fisioterapia sobreviver (abaixo apresento as estatísticas de Frey e Osborne), ela precisa se valorizar e capacitar, ou como costumo falar com alguns alunos, a população precisa muito de fisioterapeuta, mas de fisioterapeuta bom.

Ou seja, é necessário a profissão sustentar sua luta por crescimento e melhor atendimento constante para a população e se ressignificar, senão será suprimida (e com razão) pela tecnologia.

Mas o que seria ressignificar?

Encontrar um novo significado para sua prática consonante com os princípios observados por Frey e Osborne.

Darei um exemplo de uma situação que vivenciamos em nossa clínica. Iniciamos nossa atividade na área de palmilhas biomecânicas em 2004 em um processo extremamente artesanal. Esse processo foi desenvolvido e era executado por técnicos, mas com o tempo, percebemos suas limitações, tanto em quantidade, quanto em qualidade (variabilidade) na produção e por isso desenvolvemos um processo próprio de informatização e automatização do processo.

Os funcionários não tinham mais que fazer a palmilha ‘na mão’, sua função passou a ser controlar sistemas e máquinas para fluir o processo.

Isto seria ressiginificar, frente aos benefícios que a tecnologia nos traz, buscar dominá-las para otimizar seu uso, obtendo assim resultados cada vez melhores para a população.

Caso o técnico do exemplo anterior desejasse se manter no trabalho manual, ele seria suplantado de forma muito mais eficiente pelas máquinas.

Mas a situação se modifica a partir do momento que, ao invés de brigar para sustentar sua atividade anterior, ele aprende o domínio da tecnologia e ao invés de dispensável, ele se torna necessário e valorizado.

Esse deveria ser o caminho da Fisioterapia, no meu entender, nos próximos anos.

Isso é, ao invés de ser superado pela tecnologia, superar sua prática com o emprego de tecnologia.

Empregar a tecnologia para se valorizar com um domínio de conhecimento cada vez maior, isto seria se ressignificar.

Fugir de técnicas de avaliação imprecisas, comprovadamente inválidas e aplicar recursos (que cada vez mais se tornam acessíveis) para potencializar o tratamento do paciente.

Ressignificar, portanto, poderia ser entendido como desapegar de métodos e técnicas arcaicos que o profissional aprendeu e aplica há anos – e buscar o que tem de mais atual para poder ajudar cada vez mais a população.

Bom, mas quais são as profissões com maior risco de serem superadas, segundo Frey e Osborne?

Seguem algumas:

Com 99% de probabilidade são apontadas as operadoras de telemarketing, seguidas de caixa de supermercado (0,97), recepcionista de hotel (0,94) e vendedor de seguro (0,92).

Por sua vez eles elencaram as profissões com menor chance de serem substituídas (com menos de 1% de probabilidade) como cirurgiões, dentistas, professores da pré-escola, nutricionistas, fonoaudiólogos, dentre outras.

Os fisioterapeutas apresentavam baixa probabilidade de serem substituídos, mas numa proporção bem superior a essas anteriores (mais que o dobro), de 2,1%.

Logo, se desejamos cada vez mais crescer e ajudar os outros, temos que pensar em nossa melhor trajetória, ressignificando nossa prática, valorizando nossas condutas e aumentando nosso conhecimento.

Essa é a Nova Fisioterapia.

George Sabino
George Sabino
George Sabino é fisioterapeuta, mestre em Ciências da Reabilitação, professor da Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais, Coordenador científico da Pós graduação em Movimento Humano e conselheiro da Associação Mineira de Fisioterapeutas (AMF). Ele tem 13 anos de experiência clínica e docente na área de Fisioterapia e é fundador da Propulsão, uma empresa especializada na avaliação do movimento, fundada há mais de 10 anos em Belo Horizonte e que acredita na importância da prática de uma Fisioterapia individualizada e de qualidade, para ajudar cada indivíduo a explorar o mundo em sua máxima capacidade.

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