Como Diagnosticar e Tratar Sarcopenia?

Muito se comenta sobre a sarcopenia e em como ela impacta a qualidade de vida de indivíduos idosos. Este post tem como objetivo mostrar o que o fisioterapeuta pode fazer por essa população, explicar e desmistificar alguns conceitos relacionados à condição.

O Que é a Sarcopenia?

A sarcopenia é a perda de massa muscular relacionada diretamente ao envelhecimento.

Segundo Alfonso Cruz-Jentoft e colaboradores, é uma síndrome caracterizada pela progressiva e generalizada perda de massa muscular e força muscular esquelética, apresentando risco para resultados adversos como incapacidade física, pobre qualidade de vida e morte.1

Começamos a perder massa magra aos 20 anos de idade e a diferença entre a massa muscular de um indivíduo saudável de 20 anos e a de um indivíduo saudável de 80 anos é de cerca de 30%. A área de secção transversa do músculo cai, nesse mesmo período, cerca de 14%.

Após os 30 anos, perdemos cerca de 15% da força muscular a cada década e acima dos 70 anos essa taxa dobra.

A perda de massa muscular começa a ocorrer de forma mais significativa a partir da quarta década de vida, tornando-se mais acentuada em idosos a partir da oitava década de vida.

A sarcopenia não é uma doença, não tem um CID e é considerada uma síndrome.

Ela é altamente prevalente na população idosa, possui inúmeros fatores etiológicos — entre eles o envelhecimento em si — e tem relação com complicações, redução de funcionalidade, incapacidade e redução na qualidade de vida desses indivíduos.

Ela é diferente da caquexia, que é uma síndrome metabólica muito complexa, associada a diversos outros fatores e a doenças de base com perda significativa de tecido muscular, associado ou não à perda de gordura.

A caquexia pode afetar indivíduos de qualquer idade, pois está associada a fatores como inflamações sistêmicas, resistência aumentada à insulina, anorexia e aumento da quebra de proteínas musculares.

Um tipo muito comum de caquexia é a caquexia cardíaca, em indivíduos com insuficiência cardíaca crônica em estágio final.

Esse distúrbio, inclusive, pode causar desnutrição que é basicamente a ocorrência de um IMC (Índice de Massa Corporal) menor que 18,5 ou perda de peso maior que 5% em três meses seguidos.

Epidemiologia da Sarcopenia

Epidemiologia da Sarcopenia

Os idosos, de uma forma geral, pelas próprias consequências do envelhecimento, apresentam declínios funcionais.

Como dito acima, redução de funcionalidade cursa com a sarcopenia e chega a ser 80% mais frequente em indivíduos que sofrem dessa síndrome.

As síndromes geriátricas, de uma forma geral, estando a sarcopenia incluída nesse grupo, aumentam consideravelmente as chances de hospitalização e institucionalização em idosos.

Idosas sarcopênicas apresentam três vezes mais chances de serem idosas frágeis.

Cerca de 5 a 13% das pessoas entre 60 e 70 anos no mundo são sarcopênicas e essa porcentagem aumenta para 11 a 50% em idosos com mais de 80 anos.

A prevalência da sarcopenia é semelhante em homens e mulheres, em nível mundial.

No Brasil, a prevalência da sarcopenia é de 17% na população idosa — acometendo 20% das idosas e 12% dos idosos. Logo, no Brasil, a sarcopenia é ligeiramente mais comum em mulheres.

Classificação da Sarcopenia

A sarcopenia é dividida em três estágios. São eles:

  1. Pré sarcopenia: o idoso apresenta apenas redução de massa muscular, sem manifestar ainda nenhum sintoma.
  2. Sarcopenia: o idoso apresenta redução de massa muscular, com impacto na força muscular ou no desempenho em atividades diárias.
  3. Sarcopenia severa: o idoso apresenta redução de massa muscular, redução de força e redução da capacidade funcional.

Outra classificação existente diz respeito à origem da sarcopenia e a divide em sarcopenia primária e sarcopenia secundária.

  • A sarcopenia primária é definida quando não existe causa específica para a síndrome e ela é resultado simplesmente do processo de envelhecimento.
  • Já a sarcopenia secundária é marcada pela presença de patologias associadas que desencadeiam a alteração da massa e desempenho muscular.

Causas da Sarcopenia

A sarcopenia ocorre, principalmente, como resultado do processo de envelhecimento.

Com o envelhecimento ocorre, concomitantemente:

  • Redução da síntese de proteínas musculares
  • Redução da função mitocondrial
  • Redução na quantidade e no tamanho das fibras musculares (principalmente nas fibras tipo II)
  • Aumento do conteúdo lipídico intra e inter muscular
  • Redução dos hormônios sexuais e metabólicos (como na menopausa)
  • Elevação da concentração plasmática de mediadores inflamatórios

Esse processo é natural, fisiológico e acontece em todos os indivíduos que envelhecem.

O problema começa quando, associado ao processo natural de envelhecimento, surgem a imobilidade, o sedentarismo, a dieta com baixa ingestão de calorias, de proteínas, ou mesmo com associação a alguma deficiência absortiva.

Tabagismo e doenças neurodegenerativas, também comuns no idoso, algumas medicações para o tratamento de comorbidades associadas, bem como a presença de doenças crônicas associadas — como diabetes mellitus, insuficiência cardíaca, DPOC… tudo isso contribui.

Nesses casos, tem-se todos os elementos para o surgimento da sarcopenia.

Diagnóstico da Sarcopenia

Diagnóstico da Sarcopenia

O diagnóstico da sarcopenia é feito através de alguns exames que identificam os três fatores associados à síndrome: perda de massa muscular, perda de força muscular e perda de capacidade funcional.

O padrão ouro para avaliação de massa muscular é a ressonância magnética.

Porém, na prática, a massa muscular é avaliada através de medidas antropométricas simples, em consultório, como a medida da circunferência da panturrilha, pois diversos estudos mostraram que essas medidas se correlacionam positivamente com a massa muscular.

Medir a perimetria do tríceps sural, o famoso músculo da batata da perna, pode predizer se o indivíduo está ou não com sarcopenia. Essa medição é feita com o paciente em pé, com os pés afastados a 20 cm um do outro e com o peso corporal bem distribuído nos membros inferiores.

Mede-se a “circunferência da perna”, na parte mais proeminente, e se for igual ou maior que 31 cm está tudo normal.

A força muscular é avaliada preferivelmente através do dinamômetro e medidas de preensão manual são suficientes para estimar a força muscular global.

O teste de marcha é utilizado para a determinação da capacidade funcional do idoso.

Além desse teste físico, o SPPB (Short Physical Performance Battery) é também outro instrumento confiável e eficaz para o diagnóstico fisioterapêutico. O TUG (Timed Up and Go) também pode ser um bom recurso.

Tratamento da Sarcopenia: O papel fundamental da Fisioterapia

Tratamento da Sarcopenia: O papel fundamental da Fisioterapia

Apenas pelas definições acima, já podemos identificar a importância da fisioterapia no tratamento dessa doença.

De forma prioritária, estratégias de prevenção dessa síndrome, de comorbidades e de declínio funcional importante no idoso são fundamentais.

Essas estratégias são feitas preferencialmente em uma abordagem nutricional, com a ingestão de leucina (molécula que funciona muito bem para a manutenção muscular), magnésio, potássio e aporte de carboidratos.

Recomenda-se ainda que seja feita a ingestão de 1 a 1,2 g de proteínas por quilo de peso corporal diariamente. O frango, por exemplo, é um dos alimentos com maior teor proteico.

Tratamento da Sarcopenia: O papel fundamental da Fisioterapia

A instituição de um programa de exercícios para os idosos de forma a manter a massa muscular e, consequentemente, manter a força e a capacidade funcional são capazes de quebrar o ciclo que leva à sarcopenia não deixando, assim, que o idoso fique sedentário.

O objetivo principal da fisioterapia, nessa fase, seria então permitir que o idoso envelheça de forma saudável, ativa e com funcionalidade preservada.

Para idosos já sarcopênicos, o tratamento principal consiste na suplementação nutricional com proteínas e exercícios de fortalecimento.

Logo, o desenvolvimento de programas de exercícios de fortalecimento específicos, voltados para a funcionalidade e levando em consideração todas as outras características naturais do envelhecimento (equilíbrio e marcha, bem como as comorbidades associadas) é a abordagem mais eficaz.

Isso auxilia na redução do declínio da massa e da força muscular compondo assim o tratamento da sarcopenia.

O fisioterapeuta geriatra é o profissional de escolha para esse tratamento e atua tanto na prevenção como no tratamento da sarcopenia, permitindo que os idosos possam envelhecer com saúde e da melhor forma possível.

Se você é fisioterapeuta geriatra, compartilhe um pouco da sua experiência com a sarcopenia!

Referências:

Cruz-Jentoft AJ, Baeyens JP, Bauer JM, et al. Sarcopenia: European consensus on definition and diagnosis: Report of the European Working Group on Sarcopenia in Older People. Age and Ageing. 2010;39(4):412-423. doi:10.1093/ageing/afq034.

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