Mobilidade x Alongamento
Função motriz das articulações.
Ainda hoje, ouvimos por aí que todo mundo precisa alongar antes das atividades físicas, para prevenir lesões. Por outro lado, revisões sistemáticas mostram que alongamento não previne lesão (Thacker, 2004) e, ainda mais, que o alongamento prévio pode diminuir a força (Rubley, 2008) durante a atividade física. Dessa forma, alongar antes da musculação é até contraproducente .
A verdade é que, perante a grande maioria dos esportes, o que o atleta mais precisa é de mobilidade, ou seja, as suas articulações precisam obter amplitudes suficientes para a execução plena dos movimentos. Então, o foco deve ser muito maior nas nossas dobradiças do que na “flexibilidade muscular”.
Função motriz das articulações.
Cada articulação tem a sua função motriz, que se intercala sincronicamente, respeitando a lei biomecânica. A prioridade se estabelece da seguinte forma:
Tornozelo: mobilidade
Joelho: estabilidade
Quadril: mobilidade
Coluna lombar: estabilidade
Coluna torácica: mobilidade
Escápulo-torácica: estabilidade
Gleno-umeral (ombro): mobilidade
Como nas academias, os indivíduos são estimulados a realizar o máximo de movimentos e atividades de grandes amplitudes e carga, existe a maior necessidade de atenção ao ganho tanto de mobilidade quanto de estabilidade articular. Por exemplo, em um agachamento livre é essencial apresentar mobilidade plena dos tornozelos, estabilidade suficiente nos joelhos e mobilidade de quadril para agachar om segurança; além de força e controle da região lombar, mobilidade na região torácica e estabilidade na região das escápulas, para manter uma barra pesada na frente do corpo.
A diminuição ou perda da funcionalidade articular é uma das principais causas na dificuldade de aprendizagem, redução na evolução, desempenho físico abaixo do potencial e sobretudo compensações e desequilíbrios musculoesqueléticos que certamente facilitam o acometimento de lesões.
O erro mais frequente, comum em mulheres mas prevalente também em homens, é a projeção dos joelhos para dentro (valgismo dinâmico) durante o agachamento.Nos primeiros graus de flexão (início do agachamento), a causa mais comum é a ativação deficitária ou fraqueza da musculatura na região do quadril e lombar. Da metade do caminho para baixo, normalmente a origem desse padrão de movimento está associada a questões relacionadas à deficiência de mobilidade no tornozelo, quadril ou ambos. Logo, uma pequena dica que sempre indico é voltar a atenção para as articulações imediatamente acima e abaixo da região em questão, isto é, se for detectado algum padrão equivocado nos joelhos, a análise deve ocorrer também no tornozelo e quadril.
Esse raciocínio pode ser utilizado para todas as articulações. Nos momentos em que as articulações de mobilidade perdem sua característica, a próxima articulação estabilizadora será acionada a produzir uma mobilidade compensatória, favorecendo o efeito cascata até a lesão. Já as articulações de estabilidade tem por função promover uma situação segura para produção de força e potência, bem como permitir o correto deslocamento dos seguimentos corporais preservando os tecidos moles (músculos, tendões, ligamentos e cartilagem).
Diante dessa descrição, é imprescindível que o trabalho atencioso às articulações, principalmente ao ganho de mobilidade, deve estar presente na programação diária, seja para manutenção ou aquisição dos parâmetros seguros. Na academia, o trabalho de mobilização deve ser uma atividade obrigatória antes de qualquer treino, e antes até do aquecimento.
Procure sempre o profissional responsável, que preza pela qualidade do treino e pela atenção e prevenção de dores e lesões.
Arivan Oliveira Gomes Junior
Fisioterapeuta do Esporte – Sócio SONAFE
CREFITO 7 – 91.046 – F
Arivan Gomes.