Os recursos físicos fazem parte do dia a dia do fisioterapeuta mais do que qualquer outro profissional da saúde.
Por recursos físicos entendemos qualquer dispositivo ou aparelho que faça uso de propriedades físicas da energia, seja na forma de calor ou ondas sonoras, por exemplo, e aproveita os efeitos dessas formas de energia no corpo humano como forma de tratamento de diversas disfunções.
Acredito que o recurso físico mais conhecido pelo público geral seja o TENS, o famoso “choquinho”, usado por muitos fisioterapeutas – e muitas vezes de forma incorreta, temos que ser sinceros, e muito difundido na prática clínica.
Mas poucos conhecem realmente o amplo uso terapêutico do laser, mesmo os fisioterapeutas.
O laser é um recurso mais utilizado no campo da estética, mas ele possui diversas outras aplicações terapêuticas que você precisa saber.
Você não sabe quais são elas?
Não se preocupe, é para isso que fizemos esse texto.
Se você quer saber o que todo fisioterapeuta precisa saber sobre o laser, é só ler esse texto até o final!
O que é o Laser?
O laser é na verdade uma abreviatura, e veio das iniciais L. A. S. E. R., do inglês, Light Amplification Stimulated Emission of Radiation, que em tradução para o português seria a Amplificação da Luz por Emissão Estimulada de Radiação.
Mas, como o nome é grande, adotou-se a palavra Laser para designar esse tipo de terapia.
O laser é uma modalidade de recurso físico terapêutico que pode ser empregado pelo fisioterapeuta para o tratamento de diversos tipos de condições.
Existem basicamente dois tipos de laser, o laser vermelho, também chamado de laser visível, e o laser infravermelho, também chamado de laser invisível.
Eles são usados com objetivos diferentes, por terem propriedades um pouco diferentes um do outro.
Vamos conhecer um pouco mais sobre eles:
Laser visível
É o laser formado por Hélio e Neônio (HeNe), composto por um diodo com comprimento de onda não visível ao olho nu humano, e possui coloração vermelha (comprimento de onda 640/670/690).
sua ação é no núcleo das células, especificamente na mitocôndria agindo na cadeia respiratória e interferindo no ciclo de Krebs.
Ele é conhecido por aumentar a disponibilidade de ATP, o que por consequência, aumenta a atividade metabólica celular.
Laser invisível
O laser invisível é o laser infravermelho, com comprimentos de onda um pouco maiores do que o laser vermelho, cerca de 904 nn.
Ele é composto pela combinação de arsênio e gálio (AsGa).
Esse tipo de laser age na membrana celular, levando a um processo de transição da membrana e elevando concentrações de cálcio intra-citoplasmático, o que por sua vez, desencadeia uma transdução de sinal ao núcleo celular.
Ele é capaz de penetrar nos tecidos, sendo pouco absorvido na superfície corporal e penetrando com mais facilidade, o que permite uma maior profundidade de ação.
Efeitos terapêuticos do laser
A comunicação entre a células se dá pela transdução de sinais elétricos, e isso já é bem conhecido e estudado.
As células recebem sinais na forma de impulsos e são capazes de traduzi-los em seu interior na forma de ações ou processos celulares.
O efeito terapêutico do laser parte desse princípio.
O impulso gerado pelo laser ou seja, a luz, é captado pelas células e sofre transdução celular, sendo traduzido em ação e gerando consequências metabólicas celulares.
A ação resposta do tecido ao efeito do laser vai depender principalmente de dois fatores:
- Do comprimento de onda do laser – se ele é visível ou não visível;
- E do tipo de tecido biológico captando o sinal, principalmente pela concentração de cromóforos existentes no tecido.
Cromóforos são moléculas que absorvem a luz com mais facilidade e possui uma maior capacidade de transformar a luz em outras formas de energia.
Os principais efeitos terapêuticos observados com o uso do laser são o reparo tecidual e a cicatrização.
Vamos falar um pouco mais sobre esses processos agora.
A cicatrização promovida pelo laser
O processo de cicatrização depende em grande parte da presença de colágeno no corpo, que é proteína fibrosa em maior abundância no organismo.
A reparação tecidual consiste na reposição das perdas teciduais por meio da proliferação de vários tipos de células, diferentes do tecido original.
Ela consiste em três fases principais, a inflamação, a epitelização e a maturação, sendo que a inflamação é dividida na fase de reparação e na fase proliferativa.
Quando ocorre uma lesão, com consequente ruptura de continuidade do tecido, existe um processo de vasoconstrição da área lesada para evitar o sangramento, seguido de uma vasodilatação para aumento da circulação da região.
Logo acontece um acúmulo local de plaquetas com formação de placa de fibrina, acúmulo de fatores estimulantes do crescimento e substâncias quimiotáxicas.
O laser auxilia no processo de cicatrização e reparação tecidual de diversas formas, tanto de forma local como de forma sistêmica.
Dentre as ações locais após a aplicação do laser, temos:
- A elevação da síntese de ATP mitocondrial;
- A modificação da síntese de DNA e RNA;
- A liberação de histamina e serotonina;
- A liberação de acetilcolina.
Como efeitos sistêmicos da aplicação do laser, destacam-se:
- A liberação de Beta-Endorfina e prolactina tanto níveis séricos e liquóricos;
- A elevação das atividades dos fibroblastos para formação da matriz extracelular;
- O aumento na organização na organização das moléculas e proliferação celular – aumento da mitose.
Ainda destacamos alguns efeitos biológicos do uso do laser, a saber:
- O aumento na concentração de lactato-dehidrogenase e outras enzimas do ciclo respiratório (ciclo de Krebs);
- A normalização dos níveis de fibrinogênio (cascata de coagulação – hemostasia – dependendo da ativação do fator V) – fibrinogênio + enzima = fibrina.
Ou seja, a aplicação do laser é capaz de contribuir para a melhora e a aceleração da cicatrização e da reparação tecidual após uma lesão pelo somatório dos efeitos locais, sistêmicos e biológicos mencionados acima.
Qual é a dose correta para utilizar o laser?
A dose correta para o uso do laser depende dos objetivos da terapia.
Ela tem a ver com a irradiância e com a potência de emissão do laser, que nos diz o quanto de energia é emitida pela aparelho.
As variáveis que devemos conhecer para a prescrição do laser são, principalmente, a potência do aparelho dada em watts, o tempo de emissão do pulso são, principalmente a energia, dada em jaules, que nada mais é do que o produto entre a potência e o tempo de emissão do pulso.
Devemos ficar atentos, ainda, à densidade de energia durante o uso do laser.
A densidade de energia nada mais é do que a quantidade de energia pela área (W/cm² ou J/m² ou J/cm²).
É a quantidade de energia que determina superfície corporal está recebendo, e ela varia com a superfície corporal a ser tratada e com a forma de aplicação da terapia.
Quando desejamos um efeito de reparação tecidual, a dose ideal é entre 5 e 50 J/s, pois essa dose promove uma melhor condição de cicatrização e reparo tecidual, melhor alinhamento e extensibilidade do colágeno, aumento dos fibroblastos, aumento da organização dos feixes de fibras e aceleração do processo de cicatrização.
Para doses menores que 5 J/s, temos uma ação mais específica na cartilagem.
Como utilizar o laser
Quando utilizamos a aplicação do laser pela técnica de contato, a área de irradiação é igual a área do foco, ou cabeçote, do laser.
Nesses casos, é importante escolher a densidade de energia adequada para que a potência – ou dose – do tratamento seja aquela desejada.
Já a aplicação sem contato, também chamada de varredura, é um pouco mais complexa e a densidade de energia irá depender da distância e grau de divergência da fonte, o que resulta em cálculo difícil – trigonométrico.
É importante levar esses fatores em consideração, pois o grau de atividade metabólica no tecido irá depender da dose de energia aplicada.
As respostas biológicas só vão acontecer a partir de determinada dose e o efeito decresce, até que seja inibido por doses muito altas.
Inicialmente acreditava-se que poderia ocorrer efeitos deletérios com o uso de doses mais elevadas do laser, mas na verdade isto não ocorre.
O que ocorre é um processo de inibição da atividade celular, que resulta em um processo de analgesia.
Isso porque existe uma forte relação entre a frequência de modulação do laser e seus efeitos fisiológicos, sendo que cada frequência potencializa ou prioriza determinados efeitos:
- 2,5 Hz – Analgesia (liberação de endorfinas);
- 200 Hz – Liberação de serotonina – Aumento dos mastócitos;
- 700 Hz – Ativação dos fibroblastos;
- 5000 Hz – Ação crônica;
- Laser contínuo – Atua cobre todos os mecanismos.
Vamos usar mais o laser?
O laser é um recurso com eficácia comprovada e possui uma aplicação muito importante para a fisioterapia.
O maior problema é que poucos fisioterapeutas sabem como utilizá-lo e são gabaritados para realizar esta aplicação.
Agora que você conhece o uso do laser, que tal buscar uma capacitação e aprender como usá-lo para beneficiar seus pacientes?
E se você já usa o laser de forma rotineira, conta pra gente os efeitos dessa terapia nos seus pacientes aí nos comentários!