Objetivos da Dynamic Tape (DT)
A criação da Dynamic Tape, que aqui chamaremos de DT, teve como objetivo o preenchimento de várias lacunas que as bandagens anteriores a ela não resolviam. Você poderá ver isto no post colocar link sobre as bandagens elásticas, onde são mencionadas algumas das bandagens existentes atualmente assim como os maiores problemas encontrados em suas aplicações práticos.
Focando agora sobre a DT, ela funciona da mesma forma que uma corda de bungee jump e a sua aplicação é feita de forma que uma força de desaceleração é gerada, reduzindo a demanda excêntrica muscular. A energia é armazenada como energia potencial elástica quando do final da desaceleração, e quando a contração começa, a redução em comprimento da bandagem libera a energia armazenada para a cadeia cinética, de forma a auxiliar a fase concêntrica da contração muscular.
Por que utilizar a DT?
As técnicas de aplicação da DT têm como objetivos:
- Promover um efeito mecânico forte, sem limitar a amplitude de movimento;
- Promover desaceleração e absorção de cargas durante toda a amplitude do movimento;
- Modificar o trabalho muscular;
- Auxiliar a função muscular de forma ativa, através do recolhimento elástica da bandagem, sem limitação de movimento;
- Modificar padrões de movimento e introduzir movimentações acessórias, utilizando a força de recolhimento da faixa, sem interferir na amplitude de movimento total da articulação;
- Manter o efeito por diversos dias devido à reduzida fadiga da bandagem;
- Auxiliar no controle motor e na redução da dor, bem como na propriocepção e na drenagem linfática.
No entanto, a DT não é exclusivamente centrada no alívio da dor. Existe pouca correlação entre dano tecidual, ou lesão, e a dor propriamente dita. Os tecidos falham devido ao excesso de carga, não devido à dor, e a dor pode nem estar presente no quadro.
Apesar de a bandagem ter efeito significativo na redução da dor, tanto por efeitos diretos na fisiologia da dor, quanto através da modificação de padrões biomecânicos gerados pela dor, o tratamento geralmente é direcionado para as alterações biomecânicas propriamente ditas.
Da mesma forma que um dano tecidual direto não é obrigatório para a geração de dor, a dor não é consequência direta de uma lesão, ou mesmo sobrecarga ou falha tecidual.
A abordagem biomecânica da DT tem como alvo os padrões de movimento, tanto fisiológicos quanto acessórios, bem como as posições e forças que podem gerar uma sobrecarga tecidual.
- Veja também – Dynamic Tape no Tratamento Fisioterapêutico de Pé Equino em Crianças com Paralisia Cerebral Espástica
Propriedades necessárias na bandagem
Para que a bandagem tenha as propriedades de uma DT, algumas características devem estar presentes, a saber:
- Distensão em quatro sentidos: é necessário que a bandagem estique em todas as direções para evitar a limitação da amplitude de movimento durante atividades complexas nas três dimensões. Se uma faixa da bandagem é aplicada sobre a outra, elas não podem limitar o efeito uma da outra. Além disso, a bandagem deve se ancorar bem na pele, principalmente em aplicações em espiral, esticando-se em todas as direções para permitir o movimento. Outro ponto importante é que um músculo não é simplesmente longitudinal. Ele possui diferentes ângulos e uma bandagem deve ser capaz de mimetizar essas contrações em várias direções ao mesmo tempo.
- Forte resistência e recolhimento: para promover uma desaceleração efetiva, e uma assistência ativa ao movimento, um recolhimento elástico forte é necessário. Uma resistência maior pode ser obtida usando-se várias camadas da bandagem.
- Alto grau de estiramento, sem pontos rígidos: para a obtenção do efeito semelhante ao da corda de bungee jump, a bandagem deve ser aplicada com o músculo e as articulações em posição fletida, e com alguma resistência para criar tensão. Para permitir a amplitude total e movimento do seguimento, a bandagem deve ter uma elasticidade superior a 200%, não pode conter pontos rígidos e um ponto final que limite a elasticidade e, consequentemente, o movimento.
- Viscoelasticidade: a natureza visco elástica oferece uma dureza que é dependente da taxa de tensão aplicada. Quanto mais rápido é o estiramento da bandagem, maior é a resistência que ela oferece. As vantagens vêm do aumento da capacidade de reduzir a carga aplicada ao seguimento, assim como na durabilidade dos efeitos da bandagem.
- Veja também – Alívio da Dor Abdominal na Gravidez com a Dynamic Tape
Mecanismos mecânicos
Para entender melhor os mecanismos mecânicos por trás do funcionamento da DT, precisaremos revisar alguns conceitos biomecânicos importantes:
- Alavanca: um corpo rígido ou semirrígido que, quando submetido à uma força com linha de ação fora de seu eixo, exerce força em qualquer outro objeto, com tendência a realizar rotação;
- Braço de força: a distância perpendicular entre a linha de ação da força ao fulcro. A linha de força é uma linha infinita que passa pelo ponto de aplicação da força, no sentido em que a força está sendo aplicada;
- Torque: o grau no qual uma força tende a rotacionar um objeto sobre um fulcro especifico. É definido quantitativamente como a magnitude da força, multiplicado pelo comprimento do braço de força;
- Vantagem mecânica: a medida em que uma força é aplicada no braço de força, uma força de reação contrária a ela é gerada. Para existir um estado de equilíbrio entre as forças aplicadas e as forças resistivas, o produto da força muscular e do braço de força no qual a força muscular atua, deve ser igual ao produto da força resistiva e do braço de força no qual ela atua. Dessa forma, uma vantagem mecânica maior do que 1 permite que a força aplicada – no caso, a força muscular – possa ser menor do que a força resistiva, de forma a gerar a mesma quantidade de torque. Por outro lado, uma vantagem mecânica menor do que 1 é, na verdade, uma desvantagem mecânica.
Agora você vai ver como esses conceitos são usados para otimizar as técnicas de aplicação da Dynamic Tape, e como este conhecimento beneficia o fisioterapeuta que a utiliza.
Porque a Dynamic Tape (DT) realmente funciona
O desenvolvimento da Dynamic Tape, baseado na biomecânica, fez dela uma bandagem que oferece resultados imediatos e que ajuda a acelerar os tratamentos de diversas patologias.
Após mostrar algumas das propriedades desta bandagem biomecânica e justificar o porquê dessa bandagem ser diferente de todas as outras, você vai ver como, e com base em quais princípios da biomecânica, a DT atua no corpo humano.
Princípios biomecânicos da DT
Mais uma vez, precisamos de uma aulinha leve de revisão dos conceitos de biomecânica, pois a DT é toda baseada neles. Por isso, nunca é demais relembrar. Vamos lá:
Alavancas
Existem três classes de alavancas e a classe de uma determinada alavanca é determinada pela orientação da resistência e da força aplicada em relação ao fulcro.
- Alavancas de 1ª classe: a resistência e a força aplicadas são posicionadas aos lados do fulcro, como é o caso do tríceps produzindo a extensão da articulação do ombro, ou quando giramos uma chave Philips sobre um parafuso.
- Alavancas de 2ª classe: a resistência fica entre a força aplicada e o fulcro, como a flexão plantar produzida pelo músculo gastrocnêmico.
- Alavancas de 3ª classe: a força está entre a resistência e o fulcro, como quando fletimos os cotovelos utilizando a força do bíceps.
- Veja também – Dynamic Tape como Ferramenta para o Ajuste do Canto
Como podemos verificar pela figura, alavancas de terceira classe não possuem vantagem mecânica, pois o braço de resistência será sempre maior do que o braço de força. No entanto, esse tipo de alavanca permite que uma carga seja movida a distâncias maiores, ou em maior velocidade, sem que seja necessário aumento da força aplicada, ou do esforço para fazê-lo.
A maior parte dos músculos que movem as articulações do corpo, trabalha em desvantagem mecânica e é por isso que as forças internas dos músculos são muito maiores do que as forças exercidas pelo corpo humano em objetos externos. Essa força interna extremamente alta, necessária para vencer uma resistência externa relativamente pequena, se transforma em sobrecarga para os músculos e para os tendões, e é em grande parte responsável pelas lesões desses tecidos.
Todos os movimentos do corpo humano, como bem sabemos, necessitam de algum nível de aceleração, traduzida na contração muscular, como a fase concêntrica, algum nível de manutenção de tensão, ou fase isométrica e uma fase final de desaceleração, ou fase excêntrica da contração muscular. A gravidade, agindo sobre um objeto, promove a maior parte da força de desaceleração, no entanto, essa carga aumentada adiciona ainda mais trabalho para o músculo, aumentando a força necessária a ser produzida assim com a carga transferida para a musculatura e para os tendões.
Histerese:
Os tecidos viscoelásticos possuem, como característica, um atraso para responder a uma força aplicada, ou seja, os efeitos físicos dessa força demoraram a ser percebidos. A deformação causada pela força não some imediatamente, sendo dissipada ao longo do tempo e fazendo com que o tecido retorne gradualmente à sua forma original.
Isso ocorre porque a energia mecânica recebida através da aplicação de uma força é absorvida, e gradualmente devolvida ao ambiente na forma de calor, ou seja, energia térmica. Por isso todo movimento muscular gera calor.
A histerese é ainda mais evidente quando a carga e a descarga ocorrem rapidamente e em temperaturas mais altas. Em outras palavras, os tecidos se alongam mais sob essas condições, quando submetidos à uma força equivalente.
Influência do comprimento muscular
Como sabemos, todos os músculos têm a capacidade de se contraírem concentricamente, de suportarem uma carga isometricamente e de se estenderem excentricamente. Tudo isso enquanto envia informações de volta para o sistema nervoso sobre sua posição no espaço e nível de contração.
Alguns músculos, no entanto, são mais eficientes em alguns tipos de contrações do que outros.
Mesmo em um grupo muscular sinergista, alguns músculos são melhores contratores isométricos, e outros concêntricos, por exemplo. Nem todos os músculos são igualmente eficientes, do ponto de vista de geração de força, e alguns músculos conseguem gerar uma maior força em detrimento da função adequada.
A maior parte dos músculos é mais eficiente e geram força ótima quando trabalham em sua amplitude média, se apresentando mais fracos quando precisam trabalhar em posições muito alongadas ou encurtadas, ou seja, posições diferentes daquelas às quais estão habitualmente acostumados.
A estrutura de um músculo também afeta sua habilidade de gerar força. Músculos com alavancas mais longas são biomecanicamente eficientes para produzir uma maior amplitude de movimento, porém pecam um pouco na função de prevenir movimentos excessivos no centro da articulação, ou em movimentos excêntricos.
Por outro lado, músculos com alavancas mais curtas são muito eficientes para controle articular e limitam movimentos excessivos, protegendo as estruturas de estiramentos e lesões.
O que você viu de importante até agora?
Para resumir os conceitos aqui apresentados, que são necessários para o entendimento do funcionamento da DT e que serão retomados em textos futuros, assim como para compreendermos o funcionamento do corpo como um todo, vamos apresentar aqui alguns pontos chaves, comentados nesse texto, que todo fisioterapeuta deve ter em mente durante o processo de reabilitação:
- De uma forma geral, os músculos funcionam em desvantagem mecânica, sendo necessária a geração de forças intrínsecas muito grandes para mover cargas externas relativamente pequenas;
- Os tecidos viscoelásticos se deformam mais rapidamente com ciclos rápidos de carga e descarga, e a altas temperaturas. O calor é produzido como bioproduto da histerese;
- Os músculos possuem capacidade de geração de força ótima quando em sua amplitude habitual. Músculos encurtados demais, ou alongados demais, apresentam desvantagem fisiológica, ou mecânica, e reduzem sua capacidade de gerar força, como demonstrado na figura do item 3.
Esses conceitos acima, servem para que você perceba que a Dynamic Tape nunca pode ser comparada a uma Kinesio Tape, porque são produtos totalmente diferentes e foram desenvolvidos para propósitos diferentes.
Além disso, a gama de possibilidades de uso da Dynamic Tape é mais ampla, abrangendo um número enorme de patologias, e é este o conhecimento que queremos te passar sobre o uso da Dynamic Tape.
Muitas vezes é difícil mudar o raciocínio que se está acostumado a fazer em relação a um produto, como no caso das bandagens, para assimilar um novo conceito.
- Veja também – 3 Conceitos que Fundamentam o Raciocínio da Dynamic Tape
Nosso cérebro sempre prefere optar pelo menor esforço, mas é por este motivo que você está tendo a oportunidade de ter acesso a um material informativo relevante sobre um produto que pode fazer diferença na sua clínica diária. Perceba que se você arregaçar as mangas e aprender sobre esta ferramenta poderosa, você poderá melhorar muito os seus resultados.
- Acesse nossa Página no Facebook – https://www.facebook.com/lupmed
- Acesse nosso Instagram – https://www.instagram.com/lupmed/